Pivô da crise dos laranjas, Bebianno diz a aliados que deixará governo Bolsonaro

Chamado publicamente de mentiroso pelo presidente Jair Bolsonaro, o ministro-chefe da Secretaria-Geral, Gustavo Bebianno, não conseguiu se garantir no cargo após negociações que envolveram ministros palacianos nesta sexta-feira (15).

Após se reunir com Bebianno, Bolsonaro avisou a ele e a aliados sobre a demissão —e que a saída do ministro poderá ser formalizada na segunda-feira (18), segundo informou a coluna Painel.

Gustavo Bebianno entra no carro ao deixar o hotel onde mora, em Brasília
Gustavo Bebianno entra no carro ao deixar o hotel onde mora, em Brasília – Pedro Ladeira – 15.fev.2019/Folhapress

Bebianno tornou-se o centro de uma crise instalada no Palácio do Planalto após a Folha revelar um esquema candidaturas laranjas do PSL, presidido pelo ministro entre janeiro e outubro de 2018.

Após reunião com o presidente, Bebianno avisou a aliados que deixará o cargo.

Bebianno chegou ao hotel onde mora em Brasília por volta de 19h30 e, ao ser abordado pela Folha, disse que não daria declarações sobre situação.

Um assessor do governo que participou das conversas relatou à Folha que o clima azedou no meio tarde, horas depois de ter ficado definido que Bebianno teria sobrevida no cargo.

Embora tentasse um encontro pessoalmente com o presidente desde quarta-feira (13), Bebianno só foi recebido no fim da tarde, após ministros e aliados entrarem no circuito.

A conversa entre Bolsonaro e Bebianno teria sido ríspida, e o presidente chegou a deixar um ato de exoneração assinado. A gota-d’água, segundo integrantes do Planalto, foi o vazamento de diálogos privados, exclusivos da Presidência, entre Bolsonaro e Bebianno ao site O Antagonista e à revista Veja.

Nesta semana, o presidente chegou a endossar os ataques feitos pelo seu filho, o vereador carioca Carlos Bolsonaro (PSC), em que Bebianno foi chamado de mentiroso nas redes sociais por declarar ter conversado por três vezes com Bolsonaro em meio à crise das candidaturas laranjas.

Outra declaração que comprometeu a relação entre ambos foi a entrevista à TV Record em que Bolsonaro afirmou que, se for responsabilizado pelo caso dos laranjas do PSL, Bebianno precisaria retornar às suas “origens”, ou seja, deixar o governo.

O governo avaliava inicialmente duas possibilidades com a saída de Bebianno: entregá-la a um parlamentar do PSL, tentando reduzir o dano com o episódio, ou extingui-la, passando as atribuições para a Casa Civil ou Secretaria de Governo.

Mas, entre a ala militar da gestão Bolsonaro, o preferido para ocupar o lugar de Bebianno é o general da reserva Maynard Santa Rosa, que já ocupava um cargo abaixo do ministro, como chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos.

Santa Rosa e o general Floriano Peixoto, também da reserva, eram os nomes do núcleo fardado a auxiliar Bebianno em suas funções. O ministro, durante a campanha, era conhecido por suas posições abrasivas, que foram amplamente amainadas durante sua presença no governo.

O principal temor dos militares é a emergência de áudios gravados pelo ministro com o presidente. Um general com acesso a Bolsonaro diz que o mandatário está tranquilo em relação ao conteúdo, tendo dito a interlocutores que não haveria nenhuma informação sensível de Bebianno que pudesse comprometê-lo. O mesmo não poderia ser dito, segundo o militar, em relação a falas desconfortáveis sobre aliados ou piadas politicamente incorretas.

As negociações para evitar uma queda de Bebianno na sexta-feira começaram logo cedo no Palácio da Alvorada, onde Bolsonaro ainda se recupera de uma cirurgia.

Às 9h, foram à residência oficial os ministros Onyx Lorenzoni (Casa Civil) e Carlos Alberto dos Santos Cruz (Secretaria de Governo), junto com a deputada federal Joice Hasselman (PSL-SP). Os três saíram dali com uma proposta em mãos: propor a Bebianno um acordo para que ele seguisse no cargo.

O grupo disse a Bolsonaro que a demissão de um de seus auxiliares dessa forma —em crise exposta nas redes sociais— fragilizaria a imagem sobre a confiabilidade do presidente e do governo perante o Congresso e a opinião pública. Foi ponderado que isso poderia colocar em risco uma das prioridades de sua gestão: a aprovação da reforma da Previdência, que será apresentada na semana que vem.

Após o aval de Bolsonaro, os três se reuniram com o chefe da Secretaria-Geral às 11h30, na Casa Civil, em encontro que não estava previsto na agenda. Onyx levou ao colega a proposta de que precisava manter discrição e silêncio para seguir como ministro.

Bebianno assentiu e depois deixou o Palácio do Planalto por uma porta lateral, usada por visitantes e raramente frequentada por autoridades. Ao ser abordado pela TV Globo, respondeu que não sabia se ficaria no cargo.

Ele chamou então 11 de seus 22 ministros, numa conversa em que pediu que sua equipe evitasse falar em crise e transmitisse à população e à imprensa um ar de normalidade.

Bebianno ficou de fora do encontro, mas foi recebido na sequência, em uma agenda na qual estavam, além dele e de Bolsonaro, o vice-presidente, Hamilton Mourão, Onyx e o chefe do GSI, general Augusto Heleno.

Aliados de Bolsonaro querem que o filho Carlos reduza o tom de postagens nas redes sociais que possam comprometer o governo.

Desde quarta, ele tem publicado apenas mensagens de ações governamentais e, inclusive, um elogio a Mourão, a quem já dirigiu diversas críticas recentemente.

A avaliação é de que Carlos, que tem um temperamento considerado difícil, pode até, temporariamente, reduzir o tom das críticas a integrantes do governo nas redes sociais, mas que é impossível afastá-lo definitivamente.

O presidente chegou a ser aconselhado a manter Bebianno “no banco de reserva”, tornando-o um auxiliar de “segunda classe”. A ideia era de que ele fosse submetido a um processo de esvaziamento, excluindo-o de reuniões, agendas, viagens e eventos para não “contaminar o governo” até que a Polícia Federal chegue a uma conclusão sobre as candidaturas laranjas.

A postura de Carlos foi considerada inadmissível pela cúpula militar do governo. O maior crítico foi o ministro do GSI, que defendeu em conversas reservadas o afastamento do filho das redes sociais do presidente.

O diagnóstico é de que o presidente se colocou em uma situação delicada diante da crise ao ter compartilhado a manifestação do filho. Segundo relatos, o presidente não esperava que Bebianno fosse insistir tanto em seguir no posto.

A crise foi agudizada na quarta, quando Bolsonaro ainda estava em um quarto do hospital Albert Einstein, em São Paulo, e ficou irritado ao ler uma declaração de Bebianno de que eles haviam conversado três vezes no dia anterior, quando as reportagens da Folha foram publicadas.

Ele viu na fala de seu auxiliar uma tentativa de “se pendurar” no contato com o mandatário para escapar da responsabilidade de candidaturas laranjas do PSL.

Na sala estavam apenas Bolsonaro e o filho Carlos, o mais próximo do pai e que é desafeto de Bebianno.

Responsável por criar a estratégia de comunicação por meio das redes sociais do pai, Carlos foi ao Twitter contestar a declaração do ministro dizendo ter permanecido as últimas 24 horas ao lado do presidente e que a fala era uma “mentira absoluta”. Na sequência, um áudio de Bolsonaro foi publicado na conta do Twitter do filho e mais tarde replicado por seu perfil.​

Folha de São Paulo
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