O general da reserva do Exército Antônio Hamilton Martins Mourão (PRTB) será o vice na chapa presidencial encabeçada pelo deputado federal Jair Bolsonaro (PSL). Ele recebeu o convite do próprio presidenciável, e o PRTB aceitou firmar a coligação. A primeira aparição pública dos dois após o anúncio será na tarde deste domingo (5), durante a convenção do PRTB em São Paulo.
“É uma honra e um privilégio participar da reconstrução do País”, declarou Mourão ao UOL. O acerto com o PSL leva o PRTB a retirar a pré-candidatura do presidente do partido, Levy Fidelix.
Presidente do PSL-SP, o candidato ao Senado Major Olímpio elogiou a escolha. “O general Mourão tem muita credibilidade nas Forças Armadas, [também] fora das Forças Armadas e só agrega nesse processo”, disse. “Pode ter pesado mais para o Bolsonaro a figura que se tornou para a sociedade do general Mourão, brasileiro acima de tudo, que coloca suas posições com firmeza e coerência (…). Tudo isso pesa positivo para a figura do vice-presidente, que vai dar sustentação para o seu governo”.
A escolha por Mourão encerra uma novela que teve vários nomes cogitados nas últimas semanas. Bolsonaro nunca escondeu que seu “vice dos sonhos” seria o senador Magno Malta (PR-ES). O veterano político chegou a cogitar a possibilidade, mas preferiu se lançar à reeleição no Congresso. Além disso, seu partido, integrante do “centrão”, resolveu apoiar Geraldo Alckmin (PSDB).
Outro nome cogitado foi o do general da reserva Augusto Heleno, mas o partido dele, PRP, vetou o acordo. Heleno, agora, é o principal nome de Bolsonaro para o ministério da Defesa em caso de vitória na eleição de outubro. Levantou-se até a hipótese de o astronauta Marcos Pontes ficar com a vaga, mas Bolsonaro pretende incluí-lo em seu grupo de ministros.
Mourão também sempre apareceu na lista de possíveis vices na chapa do deputado federal e se mostrou disposto a assumir o posto desde o início. “Estou sentado no banco de reservas”, disse várias vezes à espera de um convite oficial. Entretanto, o partido dele, PRTB, hesitava em aceitar a indicação porque ainda cogitava lançar candidatura própria.
Intervenção militar na política
Mourão foi membro do Alto Comando do Exército até passar para a reserva em fevereiro de 2018. Seu nome surgiu com força nos noticiários entre 2015 e 2017 quando, ainda no serviço ativo, criticou publicamente o governo de Dilma Rousseff (PT) e sugeriu uma intervenção militar no governo. Ele assumiu a presidência do Clube Militar e diz atualmente que os militares devem chegar ao poder por meio das urnas.
Neste ano, antes de ser oficializado como vice de Bolsonaro, ele assumiu papel de destaque na política ao organizar, por meio do Clube Militar, um curso a distância para membros das Forças Armadas que pretendem se candidatar às eleições. É esperada a candidatura de mais de 100 militares em 2018, a postos no Executivo e no Legislativo.
O Exército já afirmou que as decisões de militares da reserva de participar das eleições são individuais e não são orientadas pelo Comando da instituição –que não tem nenhuma participação nas candidaturas. A legislação brasileira não faz qualquer restrição a candidaturas de militares da reserva.
Após a instituição entrar no centro do debate político com a ascensão de candidaturas militares, o Alto Comando iniciou também um esforço para destacar a neutralidade político-partidária do Exército. O comandante Eduardo Villas Boas lançou uma campanha institucional com vídeos no YouTube para retratar a força como uma instituição de estado, sem vínculos com a política partidária.
Ele também baixou uma série de normas para regular as visitas de candidatos militares a quartéis, para que ninguém seja privilegiado. Entre elas estão impedir que os candidatos façam panfletagem e campanha política dentro das instituições militares e gravar e fotografar as visitas para que evitar eventuais mal entendidos.
Apoio ao ‘príncipe’ e frustração por discurso
Na convenção do PSL neste sábado, os militantes presentes ainda contavam com a indicação do “príncipe” Luiz Philippe de Orleans e Bragança como vice. Bastante saudado pelos presentes, ele ficou ao lado de Bolsonaro durante o discurso do candidato, mas recebeu dele um agradecimento junto com outros nomes que foram cotados para compor a chapa: Janaina, Heleno, Malta e Pontes.
Luiz Philippe de Orleans e Bragança é apresentado como ativista político e líder do Movimento Liberal Acorda Brasil e será candidato a deputado federal por São Paulo.
A convenção paulista do partido teve a presença de militantes usando camisetas com a imagem de Bolsonaro e carregando bandeiras do Brasil. Houve ataques ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, oficializado no sábado como candidato do PT à Presidência e que está preso.
O discurso de Bolsonaro era muito aguardado, mas problemas no som tornaram difícil a compreensão por parte dos militantes, que lamentaram não poder ouvir com mais clareza o candidato.
O presidenciável lembrou que terá poucos recursos financeiros para sua campanha e tempo bastante reduzido de TV e rádio, e que por isso conta com a força de seus apoiadores.
“Juntos lutaremos pelo nosso Brasil. Juntos numa mesma bandeira e mesmo hino, independente de classe”, discursou Bolsonaro. “Vamos descer nas urnas e restabelecer a ordem e a hierarquia para alcançarmos o progresso (…). O centrão roubou e quer continuar roubando. Eles têm tempo de TV e dinheiro, mas só nós temos o povo do nosso lado”.
O evento foi aberto pelo deputado federal Major Olímpio, oficializado como candidato do PSL ao Senado Federal. Eleito em 2014 pelo PDT, ele passou por outros dois partidos durante seu mandato (PMB e SD) até entrar no PSL e se tornar um dos principais nomes da campanha presidencial de Bolsonaro.
O partido também oficializou os candidatos a deputado federal e estadual por São Paulo e confirmou que não terá candidato ao governo do estado, sem anunciar nenhum apoio oficial a outro nome ou coligações com outros partidos.
Segundo Major Olímpio, o partido, que tem tempo enxuto de televisão, também não usará recursos do fundo eleitoral, por considerá-lo “imoral”.
UOL