Chegará a hora de baixar o tom nas redes, afirma Joice sobre atuação de Bolsonaro

Para a líder do governo no Congresso, deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP), 41, o presidente Jair Bolsonaro irá baixar o tom de suas publicações nas redes sociais quando for a hora.

Em entrevista à Folha, a deputada, apontada como principal articuladora do Planalto entre os congressistas, disse não ver como ataque as publicações feitas nas redes sociais oficiais do presidente contra a imprensa. “Assim como o presidente muitas vezes é alvo de críticas da imprensa, ele tem o direito de criticar.”

Ela também defendeu a publicação de um vídeo obsceno na conta pessoal de Bolsonaro durante o Carnaval. “O eleitor do presidente é conservador, ele não pode deixar de falar com essas pessoas”, afirmou.

A deputada, que ganhou protagonismo na articulação do Planalto na Câmara diante do escanteamento do líder Major Vitor Hugo (PSL-GO) por parlamentares, defendeu a nomeação de indicados políticos, demanda do centrão. “O problema não é indicação, é corrupção”, disse Joice.

Sobre a reforma da Previdência, afirmou que o governo tem de “ouvir a reclamação de todo mundo e, dentro disso, negociar o que é possível”.

Questionada sobre a situação de seu correligionário Marcelo Álvaro Antônio, ministro do Turismo envolvido no caso de candidaturas de laranjas na eleição, ela disse que é preciso investigação, mas não denuncismo. “Aí o governo fica refém de denúncias.”

A sra. tem participado de muitas reuniões sobre a reforma [da Previdência], ao mesmo tempo que há muitas críticas sobre o líder da Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO). A sra. está ocupando um vácuo de articulação? Não, acho que sou a perna que faltava para ter um caminhar suave. O major tem qualidades só dele, e tenho algumas que ele não tem.

Como a sra. vai lidar com os partidos do centrão, conhecidos por serem mais fisiológicos e que estão em busca de cargos? Já tem uma estratégia definida e uma nova rodada de negociação com os líderes dos partidos e com os coordenadores regionais. Há um consenso de que todos os espaços têm que ser ocupados por pessoas qualificadas tecnicamente, e que o problema não é a indicação, é a corrupção. E há uma garantia de que haverá respeito à liberação das emendas impositivas, algumas já começaram até a ser liberadas. O pessoal está mais calmo, mais tranquilo.

Alguns deputados reclamam da ideia de um banco de talentos público porque não querem ter suas indicações expostas. Como conciliar isso com o discurso do governo sobre indicações transparentes? Do jeito mais antigo que tem, a boa e velha conversa. Não dá pra ser uma queda de braço, vamos construir um caminho.

Havia na Câmara uma grande insatisfação com o governo, que sofreu até uma derrota no plenário. Como a sra. vê isto? Foi antes de a gente começar esse novo momento de articulação. Tinha até conversado com o núcleo politico do Planalto sobre esse mau humor com líderes, porque teve uma série de coisas que deixou todo mundo insatisfeito. Na mesma semana, o Parlamento deu dois recados: podemos derrubar qualquer coisa e podemos aprovar qualquer coisa, desde que haja um bom diálogo.

Auxiliares de Bolsonaro no Planalto já têm dito que a situação do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antonio (PSL-MG), é insustentável devido ao caso das candidaturas de laranjas. A sra. vê dessa forma? O meu posicionamento é exatamente o do presidente, que se investigue. Se houver comprovação que de fato aconteceu qualquer tipo de ilicitude eu não tenho dúvida que o presidente vai resolver o problema. Mas para isso tem que ter comprovação, porque é todo mundo acusando todo mundo e o PSL, por ser o partido do presidente, acaba ficando no olho do furacão.

Mas os indícios contra Marcelo Álvaro são mais fortes do que os contra o ministro Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral), que foi demitido. Não são dois pesos? Sim e não. No caso do Bebianno, a relação dos dois estava extremamente desgastada, então sabe a gota d’água? É muito difícil você reconstruir uma relação que já está desgastada, quando perde a confiança. Então essa é a diferença.

O presidente ainda confia no ministro do Turismo? Imagino que sim, porque senão teria demitido. O presidente não quer é entrar num ritmo de cair na questão do denuncismo. Aí o governo fica refém de denúncias tendo ou não consistência. Tem que ter uma comprovação mesmo.

A sra. defende que o presidente limite o uso de comunicação direta, como foi sugerido por auxiliares depois do episódio do Carnaval? Ele tem é que usar mais [as redes]. A questão são os assuntos pinçados pelo presidente para discutir. O eleitor do presidente é conservador. Ele não pode deixar de falar com essas pessoas. O choro é livre.

Como a sra. viu essa publicação do vídeo, que foi amplamente criticada? O presidente é tão inteligente que quando a gente acha que ele erra, ele acertou. O Twitter dele cresceu quase 200 mil inscritos. O jeitão de se comunicar, que é intuitivo dele, mostrou que ele está certo.

Apesar de ter sido eleito com votos conservadores, agora ele não deveria falar para a população como um todo? Ele vai fazer isso, mas nenhum conteúdo significa agradar o país inteiro. Sempre vai haver grita de um lado.

A crítica é de que ele ainda estaria em campanha. É hora de baixar o tom? Acho que há tempo para todas as coisas. Chegará o tempo de baixar o tom.

E como a sra. vê os ataques que o presidente faz à imprensa em suas redes sociais, inclusive com o uso de informações deturpadas para criticar uma jornalista neste domingo (10)? O presidente também é um cidadão e tem todo o direito de discordar de um veículo A, B ou C. Assim como o presidente muitas vezes é alvo de críticas da imprensa, ele tem o direito de criticar. Não vejo essas críticas como um ataque. Nós precisamos preservar a liberdade, e eu sou uma defensora da liberdade de imprensa, nós também temos que defender a liberdade do indivíduo.

Como vai ser a negociação para a pressão por modificações na PEC da Previdência? A equipe econômica está preocupada com o excesso de demandas. Não dá para a gente abrir um monte de buracos senão vai virar uma colcha de retalhos. Temos que ouvir a reclamação de todo mundo e, dentro disso, negociar o que é possível.

Qual é mais difícil? Bancadas regionais ou partidárias? Eu tenho mais receio das bancadas regionais até do que com os partidos. A contra-comunicação já começou, que a reforma vai atingir os mais pobres.

Como a sra. vê a ingerência dos filhos de Bolsonaro em assuntos do governo? Os filhos do presidente também têm direito de dizer o que querem. E estou vendo que eles estão bastante alinhados [com o governo], vejo Carlos trabalhando bastante pela Previdência.


Joice Hasselmann, 41
Nascida em Ponta Grossa (PR), é jornalista com passagem pelas rádios CBN e BandNews, RICTV (afiliada da Record no Paraná) e revista Veja. Em 2018, foi a segunda deputada federal mais votada do país, com mais de 1 milhão de votos

Folha de São Paulo
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