Twitter ignora suas próprias regras e não pune usuários que divulgaram dados pessoais de juiz

Após conceder um habeas corpus ao ex-presidente Lula, o desembargador Rogério Favreto, do TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região), teve dados pessoais — como número de celular e endereço — divulgados em redes sociais.

O ator Alexandre Frota, que tem 53 mil seguidores no Twitter, publicou um print de WhatsApp com o celular de Favreto e uma foto dele com dois familiares, inclusive uma criança.

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Pouco tempo depois, o número também foi publicado pelo jornalista Cláudio Tognolli, com 48 mil seguidores no Twitter.

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No domingo (8), em entrevista à rádio Guaíba, Favreto disse que sua família estava sofrendo ameaças: “Há divulgação indevida por parte de pessoas nas redes sociais do meu telefone. Estão mandando ameaças para mim e minha família”.

Após a repercussão negativa, Frota e Tognolli apagaram os tuítes, mas outros usuários no Twitter continuaram a divulgar dados pessoais do magistrado.

Uma das mensagens, que foi replicada de maneira idêntica por dezenas de contas — o que é um forte indício de uso de robôs —, tinha até o endereço do magistrado.

A prática de divulgar informações pessoais de outra pessoa sem o consentimento dela é conhecida como doxing. O propósito quase sempre é que a pessoa exposta sofra algum tipo de perseguição — como ocorreu com o juiz do TRF-4.

O Twitter é uma das plataformas mais usadas para este fim, mas na maioria dos casos a empresa não faz nada. Em junho, usuários que publicaram dados de um integrante do governo Trump, nos Estados Unidos, foram punidos.

As regras de uso do Twitter são claras: “Você não pode publicar informações pessoais de terceiros sem autorização ou permissão expressa”, diz o texto, que considera doxing “uma das mais sérias violações” de suas regras.

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Após o caso de Favreto, usuários da rede social denunciaram o perfil de Frota, de Tognolli e de outros que haviam divulgado dados pessoais do juiz, pedindo que o Twitter se posicione.

Em entrevista por telefone ao BuzzFeed News, Tognolli disse que divulgou o telefone de Favreto para que a população pudesse cobrá-lo pelo habeas corpus a Lula.

“Na hora eu pensei: vou assumir um espírito de Edward Snowden”, disse o jornalista, referindo-se ao ex-funcionário terceirizado da CIA que vazou documentos sigilosos.

Tognolli diz ter apagado o tuíte após perceber que os dados do juiz foram compartilhados inicialmente por apoiadores do pré-candidato Jair Bolsonaro (PSL-RJ), como Alexandre Frota.

“Foi uma atitude consciente, eu não queria me misturar com o lixo bolsonarista”, afirmou. “A partir do momento que se tornou ideológico, eu resolvi apagar.”

Tognolli diz que recebeu ameaças após publicar os dados do juiz. “A esquerda acha que eu sou de direita, e a direita acha que eu sou de esquerda — é uma coisa que eu já aprendi a conviver. Eu acho normal, chumbo trocado não dói”, disse.

O BuzzFeed News procurou o Twitter na tarde desta terça (10) e questionou especificamente sobre o caso de Favreto.

Leia a íntegra da resposta abaixo.

As Regras do Twitter estabelecem os conteúdos e comportamentos permitidos na plataforma. A publicação de informações privadas e confidenciais de outra pessoa é uma violação a essas regras. Nossa política prevê a possibilidade de que tenhamos que receber uma denúncia da pessoa cuja informação foi compartilhada, ou de algum representante autorizado. O Twitter não comenta sobre contas específicas, mas o não cumprimento de nossas regras está sujeito às medidas cabíveis.

Buzz Feed

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About the Author: Terra Potiguar

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