RN: 272 mil idosos sustentam famílias

Aos 68 anos, Lucila Costa é a responsável pelo sustento da casa, onde mora junto com a filha de 47 anos, incapaz de trabalhar por conta de uma doença. Sobrevive há 28 anos somente com uma pensão, proveniente do pai militar. Durante boa parte desse tempo, teve ajuda de dois filhos, que moravam junto com ela, para completar a renda, mas há cerca de dez anos se tornou a única fonte financeira. Na mesma situação em que ela, existem outras 272 mil pessoas com mais de 60 anos no Rio Grande do Norte que são as pessoas de referência no lar, sustentam suas famílias, – seja com a renda  de aposentadoria, pensão ou trabalho.

Essa quantidade corresponde a mais da metade dos idosos com 60 anos ou mais do estado. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), existiam 406 mil pessoas nessa faixa etária em 2015. Os 272 mil que ainda são chefes de família também fazem parte da pesquisa do mesmo ano. São os dados mais atualizados sobre esse quantitativo, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad).

Lucila mora em Natal e tem três filhos, recebe a pensão desde os 12 anos, mas trabalhou até os 40. Ser a principal renda da família, para ela, não foi consequência da falta de oportunidade de emprego para os mais jovens ou do aumento da expectativa de vida no Brasil. Mas foram essas as duas razões que  provocaram o crescimento dessa situação entre os idosos nos últimos anos, segundo o economista Ivanilton Passos, coordenador de divulgação do IBGE/RN.

“Com o aumento da expectativa de vida, a tendência do número de idosos (de sessenta anos, que são referências na família) é aumentar”, avalia Passos. “O que acontece, também, é do idoso morar da casa dele com a esposa, aí o filho está desempregado, vem com a nora para a casa do pai, e o idoso acaba sendo essa pessoa de referência. É um cenário muito comum os filhos ficarem sem emprego e voltarem para a casa do pai. Isso está acontecendo muito para as pessoas poderem sobreviver”.

Mas, até meados de 2008, outros dois filhos e uma neta moravam casa de ‘Cila’, como é chamada a pensionista pelos mais próximos, o que a fazia estar no grupo citado por Ivanilton. A renda tinha um complemento dos filhos, mas a maior parte ainda era a pensão. “O salário era menor, mas, dentro das possibilidades deles, eles me ajudavam”, conta Lucila.

Atualmente, 5,7 milhões de lares no Brasil têm 75% renda proveniente de aposentados e pensionistas. Esse número, segundo o estudo elaborado pela LCA Consultores, aumentou 12% de um ano para o outro. Em 2017, eram 5,1 milhões de lares. Segundo informa o estudo, desde 2016 há um forte crescimento dos domicílios cuja principal fonte de renda são aposentadorias e pensões. O que indica que o número no Rio Grande do Norte, hoje, pode ser superior aos 272 mil idosos.

No estado, segundo avalia Ivanilton Passos do IBGE, há ainda mais um fator nessas estatísticas: a maior parte dos 272 mil são moradores do interior. Essa dependência fica reforçada com outro dado do IBGE, divulgado neste ano, que apresenta um terço da economia do estado a – ou 80% dos municípios – dependente desses benefícios. “Parte dos jovens não tem a oportunidade e acabam migrando para os centros urbanos”, diz Ivanilton. “O que acaba causando uma dependência muito grande da administração pública”.

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