Os riscos da moda de injetar vitaminas diretamente nas veias

No mês passado, uma mulher de 51 anos de Hunan, na China, quase morreu depois de combinar 20 frutas diferentes para criar uma injeção de vitaminas caseira. Ela acreditava que as vitaminas das frutas frescas fariam bem à sua saúde.

Ela teve febre e coceira, foi levada à área de tratamento intensivo, onde foi diagnosticada com falência de orgãos, com seu corpo à beira do colapso e infecção generalizada. Depois de receber hemodiálise e vários tratamentos com antibióticos, ela começou a se recuperar.

Esse é um exemplo extremo, mas mesmo que não chegue a tanto, a tendência de injeções intravenosas de vitaminas apresenta muitos riscos. A prática é muito popular na Ásia, onde injeções são oferecidas até em salões de beleza. Mas também já chegou ao Brasil, aos Estados Unidos e à Europa.

Quem faz propaganda da injeção de vitamina diretamente nas veias afirma que a prática aumenta a energia, fortalece o sistema imunológico, melhora a pele, cura ressaca, queima gordura, evita o jat lag e cura uma miríade de outros problemas. Embora vitaminas sejam necessárias ao corpo, não há nenhuma base científica de que sua injeção direta traga esses benefícios.

Os tratamentos do tipo podem ser bem caros. Em uma clínica de Londres, eles custam entre 100 e 3 mil euros. Celebridades como Miley Cyrus, Cara Delevigne e Chrissy Teigen aderiram à moda, postando nas redes sociais fotos de si mesmas ligadas a bolsas de soro e vitaminas.

“Os tratamentos estão se tornando cada vez mais populares, particularmente como cura rápida para a ressaca – mas, além de não haver nenhuma evidência de que tragam benefícios, eles são potencialmente periogosos”, diz a médica Marcela Fiuza, da Associação Britânica de Nutrição (BDA, na sigla em inglês).

O perigo mais imediato é infecção. “Sempre que injeta algo em seu corpo, você está correndo o risco de infecção a partir do local onde foi feita a injeção”, diz a nutricionista Sophie Medlin, especialista em alimentação intravenosa.

Agulhas pouco limpas também são um risco – agulhas compartilhadas e esterilização ruim também podem transmitir doenças como HIV e hepatite de pessoa para pessoa.

E também há a questão da aplicação, que pode ser problemática se feita por pessoas sem treinamento. “Se a agulha não for inserida corretamente, você corre o risco de ter uma inflamação”, diz Medlin. “Se a agulha for colocada na veia errada, será incrivelmente doloroso e você pode acabar com bolhas horríveis”.

“Em um contexto médico, jamais damos nada intravenoso que não seja absolutamente necessário”, diz Medlin. “Simplesmente não há nenhuma justificativa médica para administrar nutrição na veia a não ser que haja falha intestinal, porque o risco é muito alto.”

Riscos para fígado e rins

Normalmente, um paciente que recebe qualquer tipo de injeção intravenosa precisa ter seu historico médico analisado. Infusão de vitaminas em pessoas sem necessidade médica pode potencialmente colocar o fígado e os rins sob estresse. No Reino Unido, dar esse tipo de injeção sem examinar o fígado e os rins antes é proibido pelo NICE, o instituto nacional de excelência clínica do país.

“Essa precaução não está sendo tomada na maioria das clínicas que eu vi oferecendo injeção de vitaminas”, diz Medlin. As vitaminas normalmente são recebidas aos poucos, misturadas em uma bolsa de soro fisiológico. O que vai nessa bolsa varia ao redor do mundo.

Em Taipei, em Taiwan, as pessoas recebem um menu para escolher quais vitaminas querem incluir. Em Nova Déli, na Índia, clientes escolhem entre combos chamados “básico”, “sedento” (para hidratação) e outros nomes comerciais.

Há até uma injeção chamada “Magic Markle”, em homenagem à duquesa Meghan Markle. Em Londres, além de injeções “detox” e de “beleza”, uma loja oferece vitaminas para “melhorar o humor”. No Brasil, é oferecida uma mistura de eletrólitos, vitaminas e antioxidante.

Na China, fotos de estudantes recebendo vitamina na veia em sala de aula viralizaram – a escola disse que na verdade eles tinham se voluntariado para receber aminoácidos e, como não cabiam todos na enfermaria, foram transferidos para uma sala.

Medlin se diz chocada com isso – ela afirma que injeções intravenosas não deveriam jamais ser administradas fora de um ambiente clinicamente controlado. “É um procedimento de alto risco, especialmente em pessoas jovens e saudáveis que nunca fizeram exames de nível de hidratação ou distúrbios metabólicos”, diz ela.

Suplementos vitamínicos podem ser prejudiciais à saúde?

As vitaminas podem ser solúveis em água ou em gordura. As que são solúveis em água – como as oito vitaminas do complexo B e a vitamina C – são rapidamente usadas pelo corpo e o excesso é excretado.

Já as vitaminas lipossolúveis – A, D, E e K – acabam sendo armazenadas no fígado e nos tecidos adiposos e têm maior chance de se acumularem no corpo, o que pode levar a uma hipervitaminose – envenenamento por vitamina.

  • Altos níveis de vitamina B3 causam problemas de pele em algumas pessoas
  • Excesso de vitamina B6 pode levar a insensibilidade nos braços e pernas
  • Níveis de vitamina C acima de 1g por dia por causam dor abdominal e diarreia
  • Excesso de vitamina A pode causar dor abdominal, perda de peso, vômitos, visão borrada, irritabilidade e dor de cabeça

Fonte: NHS (National Health System, o sistema nacional de saúde do Reino Unido)

Lisa Rogers, da OMS (Organização Mundial de Saúde), diz que as pessoas estão exagerando no uso de vitaminas.

“Elas acham que as vitaminas vão lhe dar algum tipo de vantagem. Mas as pessoas só necessitam de vitaminas em pequenas quantidades, e só devem usar suplementos extras em caso de terem alguma deficiência de vitamina comprovada”, diz ela.

Para a maioria das pessoas, uma alimentação saudável e balenceada é suficiente para prover todas as vitaminas necessária, diz Fiuza.

Injeção de vitamina na veia pode significar que as pessoas “estão recebendo uma quantidade excessiva de nutrientes, o que ter implicações para a saúde, em particular para quem o faz regularmente ou já tem problemas de saúde”, alerta ela. Forçar a entrada de vitaminas no corpo pelas veias coloca as pessoas em sério risco de superdosagem.

“A administração intravenosa força as vitaminas em nossa corrente sanguínea. E provavelmente pelo menos 90% do que está sendo administrado será excretado. Então os benefícios, se houver, serão mínimos, e os riscos superam em muito os benefícios”, diz Medlin.

Mesmo que não surjam complicações de saúde por causa das injeções, Medlin afirma que, na prática, “você apenas está fazendo uma urina muito cara. É jogar dinheiro na privada.”

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About the Author: Terra Potiguar

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