Hortas urbanas

A ideia de ter uma horta está deixando de ser associada apenas a espaços rurais, e ganhando territórios cada vez mais urbanos. E nem precisa estar numa área cultivável. A demanda pelo alimento vegetal orgânico tem inspirado iniciativas que aproveitam os mais diversos ambientes para plantar material orgânico e difundir conhecimento. As hortas da cidade semeiam possibilidades comerciais e também mudanças de hábitos alimentares. O conceito sustentável está florescendo no asfalto.

Horta suspensa

Quem imaginaria uma horta suspensa em plena Via Costeira? É o que está sendo cultivado no teto do Hotel Imirá, um dos mais tradicionais do segmento turístico natalense. Uma área ociosa do hotel, com bastante incidência de sol, foi escolhida como espaço para tocar o projeto de sustentabilidade do estabelecimento – e já está colhendo bons resultados.

“Estamos dentro de um panorama no qual começamos a repensar nosso modelo de negócio. Temos muita área verde e a necessidade de produtos constantes de qualidade, daí o teto do hotel ter sido pensado como espaço a ser trabalhado para uma horta de orgânicos”, afirma Durval Paiva Neto, diretor administrativo do hotel.

A horta consiste em 20 módulos feitos de material reciclado para receber o plantio. O processo de irrigação está sendo automatizado. O uso de água é mínimo, à base de reaproveitamento. “Para se ter uma idéia, não utilizamos o gotejamento, mas sim a água em forma de vapor. O excesso de água que escorre pelos módulos ainda são utilizados para a irrigação dos tomates-cereja, que ainda está em fase de implantação”, explica Durval. Na horta suspensa está sendo plantado basicamente alfaces (crespa, americana e lisa), rúcula, manjericão, e logo mais, tomate cereja.

A manutenção da horta é feita por um especialista em agronomia, que projetou e idealizou o projeto junto com o hotel, e ainda fornece todas as mudas para acelerar o processo de colheita e reduzir o tempo de amadurecimento dos produtos. Duas vezes ao dia o jardineiro do hotel verifica se há alguma formiga, folhas secas ou amarelas, e demais ameaças à plantação. Funcionários de manutenção do Imirá também trabalham na horta.

A ideia, que partiu de um colaborador da limpeza do hotel, já demonstrou suas vantagens na ponta do lápis. Durval Paiva atesta que a cozinha do Imirá demanda pelo menos 60 pés de folhagem tipo alface por dia. O custo de um pé de alface pelos fornecedores do hotel variam em torno de R$1 cada, em média. “Ao fazermos o orçamento base zero, começamos a entender que se produzirmos alguns alimentos hortifrutigranjeiros, poderemos ter economia associada a qualidade. O custo individual do pé de alface atualmente sai por volta de 15 centavos. O que traz uma grande economia para nós”, afirma.

Quase toda a produção da horta é utilizada no próprio hotel, segundo Durval. “O desafio de atender a demanda do Imirá não é pequena, afinal na alta estação chegamos a atender uma quantidade bem alta de pessoas”, ressalta. Quando há sobra, é doada para os vários colaboradores do projeto. E se ainda assim sobrar mais, pode ser revendido para os fornecedores do Ceasa – que já demonstraram interesse pela qualidade do produto. “Entendemos que o trabalho é coletivo e a recompensa é de todos”, diz.

O administrador acredita que o exemplo do Imirá pode servir de inspiração para outras iniciativas semelhantes, ainda mais num cenário em que o acesso à alimentação saudável ainda é pouco acessível. “São poucas as iniciativas de produção dentro das cidades de alimentos. Acredito que temos diversos lugares para atuar, principalmente relacionada à horta orgânica e suspensa que não precisa do solo propriamente dito para plantar. Evidente que quando idealizamos a horta orgânica esperávamos diminuir a quantidade de compra do hortifruti, porém o próprio fornecedor já informou que compraria nossos produtos pela qualidade que o mesmo visualizou em nossa produção”, explica.

Museu verde 

O projeto de extensão “Práticas Pedagógicas em Agricultura Urbana para uma Sociedade Sustentável” trouxe um atrativo a mais para o Museu Câmara Cascudo, no Tirol: uma bela horta cultivada há dois anos num terreno por trás do prédio, cujo objetivo é semear informação entre os visitantes da instituição. A ideia partiu de alguns estudantes de biomedicina, estimulados pela vontade de mostrar que seria possível criar uma horta na cidade, utilizando pouco espaço e sem uso de agrotóxicos.

A horta do MCC foi projetada inicialmente em formato “mandala”, ou seja, possui canteiros circulares que se integram em torno de um centro. Tudo interligado e devidamente harmonizado. Esse formato torna mais fácil o manejo, a irrigação e a colheita, pois aproveita melhor o espaço e os recursos. Além de permitir uma produção mais concentrada e diversificada. “Esse projeto permitiu que a gente fosse além da agricultura básica, e trabalhasse várias espécies de plantas”, ressalta Darlane Lira, estudante de ciências biológicas e participante voluntária da horta.

A diversidade de espécies cultivadas na horta do MCC é grande. Há os vegetais mais comuns, como alface, rúcula, coentro, salsinha, agrião, tomate, pimentão, alho-poró, e couve (crespa e americana). No segmento de plantas de uso medicinal estão a citronela, alecrim, camomila, boldo, sete-dores, cidreira, hortelã, e malva. Não poderiam faltar as PANCs – Plantas Alimentícias Não Convencionais -, um segmento que só cresce entre chefs e adeptos da alimentação saudável. Entre elas estão a chanana, caruru, ora-pro-nobis, bredo, erva moura, palma, clitória, trapoeraba roxa e azul, etc.

A manutenção é feita diariamente por bolsistas da UFRN e voluntários. A equipe irriga, tira ervas daninhas, aduba, planta, e aplica defensivos naturais contra pragas. A horta é aberta a visitações. “Grupos escolares aparecem semanalmente, e é o público mais animado para conhecer e até pôr as mãos na terra”, afirma Darlane. Ocasionalmente, são promovidos cursos e oficinas no local. Quanto à produção, podem ser usada em dias de eventos especiais da UFRN  ou distribuída entre visitantes e funcionários. Há mudas para distribuição, com direito a dicas e sugestões para plantio. O museu está aberto à visitação de segunda à sexta, das 8 às 17h.

Tribuna do norte

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