Pesquisas envolvendo a computação quântica ganharam corpo ao longo das últimas duas décadas. Universidades, startups e gigantes da tecnologia correm para sair na frente no que promete ser uma das maiores revoluções do século 21. Mas, até agora, mesmo com bilhões de dólares investidos, nenhum computador quântico foi capaz de superar uma máquina tradicional em desempenho. Parece que o do Google conseguiu.
Pesquisadores da empresa estão trabalhando em um artigo para divulgar oficialmente a conquista. Trata-se de um marco considerado muito importante por especialistas da área: a chamada supremacia quântica. O termo é usado para especificar o momento em que um computador quântico consegue resolver um problema que demoraria muitíssimo tempo a mais para ser solucionado pelos algoritmos convencionais, que rodam em computadores clássicos.
O paper que detalha a conquista deve sair dentro de um mês em uma revista científica que ainda não foi divulgada. Só que uma versão prévia do texto acabou sendo vazada adivinhem por quem? Pela Nasa. Sem querer, a agência, que tem especialistas participando do projeto, publicou o manuscrito em um de seus sites. Ficou no ar por pouquíssimo tempo, mas o jornal Financial Times foi ligeiro o bastante para interceptar o artigo e anunciar a descoberta.
O processador da empresa teria resolvido em 3 minutos e 20 segundos um cálculo que levaria 10 mil anos para ser executado – por nada menos que o mais avançado supercomputador da atualidade, o Summit. Essa máquina colossal da IBM realiza mais de um quintilhão de operações por segundo.
O problema da computação quântica é que, apesar de muito promissora, os protótipos até agora só conseguiram cumprir mais depressa as mesmas tarefas que os computadores clássicos já fazem. E isso não justifica a imensa complexidade e o custo para construir um sistema desses. Por isso a supremacia quântica é tão emblemática: ela representaria o ponto de virada para um novo paradigma, uma nova era da computação.
Nela, processadores quânticos vão resolver cálculos que nenhum supercomputador no mundo dá conta. E isso terá impactos inimagináveis em áreas como a criptografia, a inteligência artificial e basicamente todos os setores produtivos da sociedade. É que a essência de uma máquina assim é totalmente diferente da CPU que estamos acostumados. Ela não trabalha com bits, mas sim com qubits.
Bits são unidades binárias que ficam no processador e representam ou um ou zero; já um qubit pode representar um e zero ao mesmo tempo. Isso graças às exóticas propriedades quânticas das partículas usadas para transmitir a informação. Interligando uma cadeia de qubits, a habilidade de reunir e transmitir informação cresce de forma exponencial, o que permite processar insanas quantidades de dados instantaneamente.
O projeto do Google ganhou o codinome Sycamore e conta com 53 qubits. Inicialmente eram 72, mas ficava muito difícil controlar a máquina com essa configuração. Outras empresas como a IBM e a Microsoft também têm seus próprios dispositivos parecidos. A tarefa que o Sycamore resolveu é puramente técnica e sem qualquer impacto prático. Mas foi a prova de que os computadores quânticos têm futuro — o que já é grande coisa.