Médicos cubanos do programa Mais Médicos começaram a deixar seus postos de trabalho no Rio Grande do Norte nesta terça-feira, 20. Segundo o Conselho de Secretarias Municipais de Saúde do RN (Cosems), que se reuniu na tarde desta terça, os profissionais atenderam uma orientação de Cuba, dada no dia anterior, para paralisar as atividades e organizar o retorno ao país. Eliza Garcia, vice-presidente do Cosems-RN e membro da secretaria de saúde do município de Doutor Severiano, afirmou que maior parte das cidades estão despreparadas com as saídas dos estrangeiros.
“A preocupação é com os menores municípios, mais afastados, que vão ficar sem atenção básica até o edital [de convocação dos médicos] ser concluído e os médicos chamados”, disse Garcia. Além da preocupação humanitária, a vice-presidente também citou uma dificuldade orçamentária. “Os municípios arcam com a pecúnia dos médicos, que no caso dos cubanos era de R$ 3.500. O restante era enviado pelo Governo Federal à Opas. A pecúnia dos brasileiros é maior e não temos esse dinheiro reservado no orçamento deste ano”, explicou.
Oito cidades do Rio Grande do Norte contavam somente com os cubanos na cobertura de saúde básica. É o exemplo de Itajá, município com sete mil habitantes situado no Vale do Açu. Dois médicos eram responsáveis pelo atendimento da população. Nenhum dos dois foi às Unidades Básicas nesta terça-feira. Segundo informações repassadas por funcionários da UBS, eles foram até Mossoró para resolver trâmites do retorno à Cuba.
Outra cidade sem atendimento de cubanos já nesta terça-feira foi Currais Novos, de 45 mil habitantes. O secretário municipal de saúde do local, Luciano Ferreira Oseas, que estava na reunião do Cosems, informou que cinco unidades de saúde básica ficaram desassistidas e outras cinco tiveram a capacidade de atendimento reduzida. Ao todo, são 17 unidades na cidade. Ele espera o edital com a expectativa de cobrir a assistência, mas prevê aumento de casos no pronto-atendimento da cidade e superlotação nas UBS.
“O prejuízo é muito grande porque os médicos cubanos prestavam um grande serviço no programa saúde da família, que previne muitas doenças e evitam que as pessoas vão ao pronto-atendimento”, declarou. “Agora, precisamos esperar o edital para a chegada de novos médicos, mas o prejuízo hoje é existente, tanto o humanitário quanto o orçamentário, porque não planejamos o ano para atender a pecúnia dos médicos nacionais”.
Essa dúvida orçamentária se tornou a maior para os gestores presentes na Cosems, depois do lançamento do edital que prevê o preenchimento das vagas deixadas pelos caribenhos. Há uma preocupação em relação a como pagar os médicos brasileiros, que recebem uma pecúnia de R$ 10 mil.
“Eu tinha um custo de R$ 24.500 mensal com sete médicos cubanos. Com os brasileiros, esse custo sobe para R$ 70.000. O orçamento deste ano foi planejado em 2017 contando com os cubanos e não dá para fazer a suplementação suficiente para arcar com esses R$ 70 mil. Então, como vou pagar?”, questionou Oseas, de Currais Novos.
Em Jardim de Angicos, cidade com pouco mais de 2.500 habitantes, a médica cubana que atende no único posto de saúde da cidade foi para o local apenas para se despedir da população. A prefeitura espera que um novo médico seja enviado para a cidade nos próximos dias. Em Assu, cidade com seis médicos cubanos participando do “Mais Médicos”, nãohouve despedidas. O informe era de que o convênio com o governo Cubano tinha sido encerrado e que não poderiam atender nas unidades.
Conselho nacional
Em nota aos municípios, o Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde pediu aos gestores que prestem apoio aos cubanos para que eles possam retornar ao país caribenho com “dignidade, tranquilidade e segurança”. O presidente do conselho, Mauro Junqueira, informou ao jornal Folha de São Paulo que tinha conhecimento de algumas cidades que já haviam ficado sem assistência nesta terça-feira, a exemplo do ocorrido em Itajá.
Tribuna do Norte