Ele está em todos os lugares. Divulgando “Missão Impossível: Efeito Fallout”, Tom Cruise se mostra mais rápido do que o próprio Ethan Hunt. São inúmeras entrevistas, turnês de divulgação e aparições em talk shows, em uma sequência de eventos que parece não ter fim. Hoje, é possível dizer que Tom Cruise é um nome insubstituível de Hollywood, mas nem sempre foi assim.
Uma reportagem do “Business Insider” mostra que em agosto de 2006 parecia que a carreira do ator tinha chegado ao fim.
Um anúncio completamente inusitado e sem precedentes da Viacom, assinado por Sumner Redstone, arrasou com a imagem do ator. E olha que Cruise era um dos maiores nomes da divisão de filmes da empresa, a Paramount.
O texto não se preocupou nem em usar eufemismos ou tentar relativizar as escolhas de Tom. Sua presença constante nos tabloides, suas aparições polêmicas na TV e o envolvimento profundo com a cientologia haviam desagradado a Paramount.
“Nós não achamos que alguém que efetue um suicídio criativo e custe toda a receita da empresa deva estar no nosso time. Sua conduta não foi aceita pela Paramount”, disse Redstone ao “The Wall Street Journal” na época.
Como se dispensa um ator que vale milhões?
Na época, Tom Cruise estava com 43 anos de idade e sua “bilheteria pessoal” nos filmes já somava US$ 1,5 bilhão. Por que um estúdio abriria mão de ter uma estrela desse porte?
Hoje, quando vemos “Missão Impossível: Efeito Fallout” se consagrar como a melhor estreia de toda a franquia, fica estranho pensar em Cruise no fundo do poço, mas essa era a sua situação.
E um episódio marcante deu o pontapé nesta série bizarra de eventos. Em maio de 2005, Tom apareceu no “The Oprah Winfrey Show” para promover o filme “Guerra dos Mundos”. O ator era conhecido por dar poucas entrevistas, ainda mais por se tratar de um programa popular e diurno da TV americana.
Nem o maior otimista imaginaria que Tom Cruise estaria com tamanho bom humor naquele dia. Ele brincou com Oprah, arrancou gargalhadas do público e deu o famoso pulo de alegria no sofá quando foi questionado sobre Katie Holmes. Empolgado para falar sobre sua então nova namorada, ele não se segurou. O vídeo, é claro, viralizou no ainda recente YouTube.
Um mês depois, ainda falando sobre “Guerra dos Mundos”, ele foi ao programa “Today”, com Matt Lauer, mas o tom foi diferente. A pauta do programa focou na cientologia. Quando Cruise foi questionado por ser “contra a psiquiatria”, e principalmente por não indicar o uso de medicamentos para tratar problemas psicológicos, o clima pesou.
A cientologia, fundada pelo escritor L. Ron Hubbard em 1954, defende, entre outras práticas, o uso do poder da mente para driblar sofrimentos como estresse, ansiedade e nervosismo.
Na época, Cruise praticamente se tornou um porta-voz da religião e confrontou o apresentador de maneira bem enfática em uma série de questionamentos sobre o tema.
Sua postura agressiva na TV, algo inédito para seus fãs, não caiu nada bem e somou mais um capítulo na desconstrução da sua imagem de bom moço. Novamente, o vídeo viajou pelo mundo inteiro.
A importância de Pat Kingsley
De acordo com um artigo do “LA Weekly” de 2014, Pat Kingsley foi a assessora responsável por cuidar da vida particular de Tom Cruise em boa parte de sua carreira. Era trabalho dela manter a imagem dele limpa e o mais longe dos tabloides. Era ela quem insistia para que o ator falasse menos sobre a cientologia publicamente. Mas tudo mudou quando a assessora saiu de cena.
Pat Kingsley foi substituída por um time de assessores que incluía integrantes da cientologia e Le Anne De Vette, irmã do ator.
“Guerra dos Mundos” ia muito bem nas bilheterias, mas a equipe do ator não estava sabendo lidar com a repercussão da vida particular de Cruise na mídia, principalmente com a popularização do casal “TomKat”, um prato cheio para a mídia de celebridades de Los Angeles. Misturar um caso de amor com uma religião que desperta curiosidade do público era uma fórmula infalível para os tabloides.
Atritos dentro do grupo
Enquanto a vida particular seguia nos holofotes da mídia, Cruise via sua imagem novamente arranhada. O ator foi personagem central de um episódio do desenho “South Park”. Exibido em novembro de 2005, “Trapped in the Closet” (preso no armário, em tradução livre) fazia piadas com a cientologia, a insegurança de Cruise e principalmente sobre boatos sobre sua sexualidade.
Na época, o episódio pegou mal e Tom Cruise teria, segundo o “Business Insider”, pressionado a Viacom –que cuida tanto da Paramount quanto da Comedy Central– para que não exibisse novamente o capítulo de “South Park”. Ele negou o fato, embora “Trapped in the Closet” tenha estranhamente reprisado com certo atraso pelo canal. Em vez de março, ele foi passar novamente somente em julho.
Os fãs do desenho animado, que estava em grande fase na época, prometeram boicotar o próximo filme de Cruise, “Missão: Impossível 3”. Mais um problema para o ator, mas agora no campo profissional.
Imagem arranhada
Essa série de eventos fez com que a imagem de Tom Cruise em Hollywood perdesse cada vez mais o brilho. A cobertura incessante dos tabloides esgotou o assunto sobre o casamento com Katie Holmes. O noticiário chegou ao ponto de dizer que a união teria sido armada pela própria cientologia –o casamento aconteceu em novembro de 2006 e terminou seis anos depois.
“Missão: Impossível 3” foi muito bem na estreia –bateu o primeiro lugar das bilheterias–, mas perdeu força nas semanas seguintes. A venda de ingressos caiu 47% na segunda semana e sofreu mais uma queda de 53% na seguinte.
A sequência de baixas na vida particular e o momento em queda nas telonas culminou na dispensa publicada por Redstone.
Um longo caminho de volta
Fora da Paramount, Cruise contratou uma nova pessoa para cuidar de sua imagem, aproximou sua produtora da MGM e o principal, deixou a cientologia nos bastidores de sua vida. Embora tenha aparecido em um vídeo de 2008 defendendo sobre sua crença, ele parou de falar publicamente sobre o assunto.
No cinema, optou por se afastar um pouco dos filmes de ação. Abriu espaço na agenda para dramas como “Leões e Cordeiros” (2007) e “Operação Valquíria” (2008). Em “Trovão Tropical” (2008), permitiu-se rir de si mesmo, desconstruiu a imagem de galã e atuou na comédia ao lado de Jack Black e Ben Stiller.
Além de ganhar alguns fãs de volta, o filme o reaproximou da Paramount. Sua produtora estava fora da jogada, mas isso não impedia que ele voltasse a atuar nos filmes do estúdio, o que possibilitaria um retorno para “Missão Impossível”.
J.J. Abrams, que dirigiu “Missão Impossível 3”, teve boa participação nesta reaproximação, tanto que atuou como produtor em “Missão: Impossível – Protocolo Fantasma” (2011), filme que marcou o retorno de Cruise à franquia.
Coadjuvante?
Em vez de chamar “Missão: Impossível 4”, o filme teria um título diferente. Uma maneira de renovar a franquia e fazer com que Cruise tivesse menos espaço e abrisse lugar para Jeremy Renner na franquia.
Ao menos essa era a intenção do estúdio.
Novamente como Ethan Hunt, o ator fez todos os tipos de peripécias que já conhecemos, entre elas, escalar o prédio Burj Khalifa, em Dubai, sem dublê. Essas e outras atitudes atraíram atenção mundial a “Protocolo Fantasma”, mas principalmente puxaram novamente os holofotes para o protagonismo de Cruise.
É claro que neste meio tempo alguns tropeços apareceram. Filmes como “Jack Reacher” (2012) e “A Múmia” (2017) ficaram aquém do esperado, mas a franquia de “Missão Impossível” não só consagrou o retorno triunfal do ator como também se tornou um porto seguro da Paramount.
Com os números expressivos de “Efeito Fallout”, um novo “Top Gun” a caminho e a vida particular preservada entre quatro paredes, Tom Cruise parece determinado a voltar a ser o número 1 de Hollywood.