As descobertas de infecções de HIV no Rio Grande do Norte mais que duplicaram entre 2014 e 2016 – último ano registrado na base de dados do Sistema Único de Saúde (SUS). Em todo estado, 1.423 pessoas foram diagnosticadas com o vírus no período de três anos, sendo 296 em 2014; 522 em 2015; e 605 em 2016. Os jovens de 20 a 29 anos são os mais vulneráveis, correspondendo a 35% de todos os casos. Neste mesmo período, a AIDS, doença decorrente do HIV, matou 326 pessoas no estado. Destas, aproximadamente 50 eram jovens.
Preservativos para evitar o HIV deixaram de ser distribuídos para o Rio Grande do Norte
Apesar do número crescente de casos no estado, a Secretaria de Estado de Saúde (Sesap) não considera uma situação epidêmica. “Ressalta-se que a notificação compulsória da infecção do HIV é muito recente, o que impede uma análise epidemiológica segura com relação às tendências da infecção no Rio Grande do Norte”, aponta o boletim epidemiológico de IST, AIDS e Hepatites Virais, elaborado junto pelo Governo do Estado com base nos dados do SUS.
Questionado sobre as razões do aumento, Sérgio Fabiano Cabral, responsável técnico do Programa Estadual IST/AIDS e Hepatites Virais, da Sesap, resume: “a juventude esqueceu a ‘Era Cazuza’. “Os jovens não temem mais o sexo sem proteção como antes porque o HIV não é tão falado e temido quanto antes, a conscientização ficou mais difícil, mas é preciso entender que o tratamento é muito doloroso”, acrescenta.
Segundo Cabral, as campanhas de conscientização diminuíram nos últimos anos e, por isso, tornou-se mais difícil atingir os jovens. “As campanhas tem retornado aos poucos, a partir desse aumento, mas é preciso fortalecer a importância da ‘educação entre pares’”, afirma. Educação entre pares é quando um jovem fala para o outro sobre o assunto, causando aproximação sobre o debate. “Quando é um agente de saúde falando, é mais difícil que eles entendam a importância de utilizar um preservativo”.
Sérgio Fabiano afirma que “a juventude esqueceu a ‘Era Cazuza’”
Desde que o HIV começou a ser debatido no Brasil, há mais de três décadas, o tratamento para controle do vírus evoluiu. Hoje, é possível reduzir os índices até o ponto de serem indetectáveis em exames. Apesar disso, é preciso estar sempre atento: a interrupção do tratamento acarreta o retorno da multiplicação do vírus e, consequentemente, pode levar a morte.
Os dados apontam que 1.114 pessoas morreram em dez anos, entre 2006 e 2016, em decorrência da AIDS. Entre o primeiro e o último ano compilado, o aumento triplicou (45 em 2006 para 145 em 2016). Mas, na maioria dos casos, os efeitos colaterais do HIV baixam a imunidade do organismo, deixando o soropositivo mais vulnerável a outras doenças. “O que acaba acontecendo é que muita gente morre por conta dessas complicações e o fato dela ter HIV não é levado em conta, não entra para a estatística”, ressalta Felipe (nome fictício), portador do vírus.
Mundo
A situação do Rio Grande do Norte não é isolada do que é observado no mundo. Relatório deste ano, divulgado pelo Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (Unaids), indica que, pela primeira vez, as metas globais para eliminação da AIDS até 2030 correm o risco de não ser cumpridas. O número de novas infecções tem crescido em cerca de 50 países.
Para evitar a contaminação do HIV e de outras doenças sexualmente transmissíveis no Rio Grande do Norte, a Sesap e organizações não governamentais (ONGs) realiza campanhas permanentes para o diagnóstico do HIV e foca em eventos estratégicos, como a parada do orgulho LGBT, Carnatal e o 1º de dezembro, considerado o dia mundial da luta contra a AIDS.
Número de casos de AIDS em maiores de 11 anos no Rio Grande do Norte
25% tem entre 20 a 29 anos:
2006: 245;
2007: 334;
2008: 329;
2009: 347;
2010: 379;
2011: 408;
2012: 468;
2013: 513;
2014: 559;
2015: 384;
2016: 422;
72,2% de crescimento.
Mortalidade por AIDS no RN
15% tem entre 20 e 29 anos
2006: 45;
2007: 55;
2008: 91;
2009: 102;
2010: 108;
2011: 124;
2012: 125;
2013: 138;
2014: 95;
2016: 145;
222% de crescimento.
Infecção pelo HIV no RN
35% têm entre 20 e 29 anos
2014: 296;
2015: 522;
2016: 605;
Total: 1.424;
104% de crescimento.
TRIBUNA DO NORTE