A política brasileira foi movimentada ao por um super sábado de convenções partidárias. Cinco pré-candidatos presidenciais foram confirmados por seus partidos, e outras três siglas definiram quem apoiarão na disputa deste ano.
Em São Paulo, o PT confirmou o ex-presidente Lula como seu candidato presidencial – mesmo preso em Curitiba, Lula interditou o debate sobre seu companheiro ou companheira de chapa. Em Brasília, Marina Silva foi aclamada candidata da Rede Sustentabilidade, e Geraldo Alckmin tornou-se o candidato oficial do PSDB à Presidência.
Na parte de baixo das pesquisas de intenção de voto, Álvaro Dias foi ungido candidato presidencial do Podemos (antigo PTN); e o liberal João Amoêdo oficializou-se candidato pelo Partido Novo.
O tucano Geraldo Alckmin também recebeu o apoio formal de mais dois partidos neste sábado: o PR (legenda com 34 deputados federais eleitos em 2014) e o PPS (10 deputados eleitos). O Partido Humanista da Solidariedade (PHS), que elegeu 5 deputados em 2014, oficializou o apoio a Henrique Meirelles (MDB) – e ele próprio participou do evento na sede da sigla, também em Brasília.
Mais cinco partidos devem realizar seus eventos neste domingo, que encerrará a temporada de convenções deste ano. A decisão mais esperada é a do PSB – fundamental tanto para os planos do PT quanto de Ciro Gomes.
Abaixo, um resumo dos fatos mais importantes deste sábado.
Lula (PT)
A convenção do PT ocorreu na Casa de Portugal, um espaço de eventos no bairro da Liberdade, em São Paulo. Sem seu principal líder presente, o partido recorreu a máscaras de Lula distribuídas aos militantes com o rosto de Lula – além de uma profusão de camisetas, botons e bandeiras com a imagem do ex-presidente. Mesmo preso em Curitiba desde o dia 7 de abril deste ano – e virtualmente impedido de concorrer pela Lei da Ficha Limpa – Lula foi aclamado como candidato pelos cerca de 600 votantes da convenção.
Marcada de início para às 9h30, a cerimônia do PT atrasou cerca de uma hora e meia: antes da convenção, foi realizada uma reunião da Comissão Executiva Nacional do partido, na qual o principal assunto era a discussão sobre quem será o candidato ou candidata à vice-presidência na chapa de Lula. Há quem defenda que a vaga seja oferecida a Manuela D’Ávila (candidata presidencial do PC do B). Outra corrente de opinião prefere a atual presidente do PT, a senadora Gleisi Hoffmann (PR) como vice de Lula. Não há decisão até o momento.
Durante a manhã, integrantes da Comissão receberam ligações de dirigentes do PC do B, que desejavam que o PT anunciasse Manuela D’Ávila como vice de Lula já na convenção deste sábado.
Outro ponto em disputa é a data na qual o vice será anunciado: uma parte da equipe jurídica de Lula deseja fazer o anúncio nesta segunda-feira (6), data indicada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) como limite para a apresentação das chapas e das coligações. Outra corrente acredita que é possível adiar a decisão até 15 de agosto, data final para a inscrição das chapas no TSE – e que foi observada em eleições passadas.
Lula enviou uma carta à convenção, que foi lida pelo ator Sergio Mamberti – o mestre de cerimônias do evento. “Esta é a primeira vez em 38 anos que não participo pessoalmente de um encontro nacional do nosso partido”, começa a missiva.
“Já derrubaram uma presidenta eleita; agora querem vetar o direito do povo escolher livremente o próximo presidente. Querem inventar uma democracia sem povo”, continua Lula, referindo-se ao impeachment de Dilma em 2016. “A decisão de hoje vai nos conduzir a uma luta sem tréguas pela democracia, pelo povo brasileiro e pelo Brasil. E a vitória dependerá do empenho de cada um de nós”, diz o texto.
Apesar do clima de unidade em torno da figura de Lula, alguns militantes da juventude do partido puxaram palavras de ordem para questionar decisões recentes da cúpula petista – principalmente o acordo desta semana com o PSB, que resultou na retirada da candidatura de Marília Arraes (PT) ao governo de Pernambuco. Alguns empunhavam cartazes com o nome de Marília, hoje vereadora em Recife.
Marina Silva (Rede)
Ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente (2003-2008) no governo Lula, Marina Silva foi aclamada candidata no evento da Rede Sustentabilidade – partido nascido oficialmente em 2015. Esta será a terceira vez que Marina disputa a presidência da República. Desta vez, Marina terá como companheiro de chapa o médico sanitarista Eduardo Jorge, filiado ao PV – partido que estará coligado com a Rede na disputa deste ano.
O evento ocorreu num antigo parque aquático e hotel de Brasília, a poucos quilômetros do Palácio da Alvorada, que é a moradia oficial dos presidentes da República.
Marina Silva discursou por cerca de uma hora. Comentando a fragilidade de sua aliança para a disputa presidencial, disse ser especialista em passar por “frestas” – citou o fato de só ter sido alfabetizada aos 16 anos de idade, e de ter sobrevivido a doenças como a hepatite. “A postura (pessoal) vai derrotar o mecanismo, as estruturas. O povo brasileiro não vai ser submetido aos ‘centrões’ de esquerda, de direita, de centro. Quem está no centro é o povo brasileiro!”, disse, exaltada.
Geraldo Alckmin (PSDB)
Geraldo Alckmin, 65 anos, foi escolhido para ser o candidato do PSDB à presidência da República num evento neste sábado, em Brasília. Alckmin terá como vice a senadora Ana Amélia Lemos (PP-RS), cujo partido faz parte da mega-aliança de oito legendas que o apoiam. Além do PP de Ana Amélia, o tucano terá o apoio de DEM, PR, PRB, PSD, PTB, PPS e SD. Além da convenção do PSDB, Alckmin também fez passagens ontem pelos eventos de outros dois partidos de sua coligação: o PR e o PPS.
“Um governo de qualidade requer espírito público, coesão. Requer alianças, para poder fazer o melhor”, discursou Alckmin no evento do PSDB. “Nós vamos mudar o Brasil, não com bravatas (…), com gritaria e tumulto – aliás foram exatamente as bravatas e os radicalismos que criaram a criaram a coincidência trágica que o governo petista nos deixou: 13 milhões de desempregados”, disse ele, referindo-se ao código eleitoral do PT. Dos 290 votos da convenção, Alckmin teve 288: recebeu também uma abstenção e um voto contrário.
O ex-governador tucano de São Paulo começou a trilhar o caminho até sua candidatura presidencial em novembro passado. Naquele mês, conseguiu que o senador Tasso Jereissati (CE) desistisse de concorrer à presidência do PSDB – cargo que Alckmin conquistou em dezembro passado. E em março deste ano, o paulista de Pindamonhangaba não teve concorrente nas prévias do PSDB. Seu rival, o senador Arthur Virgílio (AM), retirou a candidatura antes da disputa. Esta é a segunda vez que Alckmin concorre à Presidência: em 2006, ele foi derrotado por Lula (PT), no segundo turno da disputa.
Álvaro Dias (Podemos)
O Paraná é o berço político do candidato Álvaro Dias, e foi na capital Curitiba que o Podemos realizou sua convenção nacional neste sábado. O evento também oficializou o nome do ex-presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro (PSC), como candidato à vice-presidência. Castro chegou a ser pré-candidato à presidência pelo PSC, mas retirou seu nome para apoiar Alckmin na última quarta-feira. Álvaro Dias também terá o apoio de PRP e do PTC, partido do ex-presidente Fernando Collor (hoje senador por Alagoas).
Paulista de Quatá, Álvaro Dias fez carreira política no Paraná e está em seu sétimo partido político – já passou duas vezes pelo PSDB (de 1994 a 2001 e de 2003 a 2016), e pelo antigo MDB (1968-1989). Reeleito senador pela terceira vez consecutiva em 2014, Álvaro Dias voltará à Casa Alta caso seja derrotado na disputa presidencial.
João Amoêdo (Novo)
João Amoêdo foi lançado candidato por seu Partido Novo num evento em São Paulo, na tarde deste sábado. O evento ocorreu na Câmara de Comércio Americana (Amcham), na zona Sul da cidade. Ex-executivo de instituições financeiras, Amoêdo terá por vice o cientista político Christian Lohbauer, também filiado ao Novo.
Por enquanto sem alianças com outros partidos, o Novo se propõe a apresentar candidaturas ideologicamente identificadas com o liberalismo econômico. Em seu primeiro discurso como candidato, Amoêdo diz que o objetivo de sua sigla é “mudar o sistema (político)” do país. “Quando a gente começou, o que eu queria era ir para o setor público para tentar dar uma ajuda, Mas felizmente eu entendi que o sistema que está lá não foi feito para facilitar a vida do brasileiro. A missão era outra”, disse Amoêdo.
BBC