A defesa do professor Luis Felipe Manvailer, de 32 anos, acusado de matar a esposa, a advogada Tatiane Spitzner, de 29 anos, pede que ele seja transferido de onde está preso em Guarapuava, na região central do Paraná, depois da tentativa de “tirar a própria vida”.
A advogada foi encontrada morta depois de cair do 4º andar do prédio onde morava com o marido, no Centro de Guarapuava. Câmeras de segurança mostraram que ela foi agredida por 20 minutos por eleantes da queda.
No mesmo dia da morte, Luis Felipe foi preso suspeito do crime. Ele nega as acusações e diz que a mulher se jogou da sacada.
O professor foi denunciado por homicídio, fraude processual por alterar a cena do crime e cárcere privado pelo Ministério Público do Paraná (MP-PR). Até a publicação desta reportagem, a Justiça não tinha se manifestado sobre a aceitação ou da denúncia.
A defesa pede que Luis Felipe seja transferido da Penitenciária Industrial de Guarapuava (PIG) para o Complexo Médico-Penal (CMP), em Pinhais, na Região de Curitiba, “para atendimento psiquiátrico e psicológico urgente”. O CMP disponibiliza esse tipo de atendimento para os presos.
“Defesa teve conhecimento de que Luis Felipe, profundamente abalado pelo turbilhão emocional sofrido nos últimos dias, vinha apresentando quadro de depressão profunda”, diz o pedido de transferência.
O que diz a penitenciária
Por meio de um comunicado, de segunda-feira (6), com o assunto “tentativa de suicídio”, a PIG informa que Luis Felipe Manvailer apresentava hematomas no pescoço e que, “aparentemente havia se cortado”.
Conforme a Divisão de Segurança e Disciplina da penitenciária, Luis Felipe recebeu atendimento médico e está bem fisicamente, mas abalado emocionalmente. Segundo a penitenciária, ele confessou que havia se cortado para “acabar com o sofrimento”.
No comunicado, a penitenciária ainda diz que Luis Felipe disse que Luis Felipe desistiu do suicídio depois de se lembrar da mãe. Ainda conforme a PIG, o professor está em uma cela especial por ser um preso provisório e ter ensino superior completo.
A família de Tatiane se manifestou contra a transferência.
Entenda o caso
A queda de Tatiane foi na madrugada do dia 22 de julho, no Centro. Conforme a Polícia Civil, depois da queda, Luis Felipe recolheu o corpo de Tatiane e o levou de volta para o apartamento.
Uma testemunha ouvida pela Polícia Civil de Guarapuava relatou que viu o marido recolhendo o corpo e que ouviu gritos: “Meu amor, acorda”.
O marido foi preso após sofrer um acidente de carro na BR-277, em São Miguel do Iguaçu, a 340 quilômetros de Guarapuava. Ele disse que se acidentou porque a imagem da esposa pulando a sacada não saía da cabeça dele.
O casal estava junto havia cinco anos e era “feliz”, de acordo com a defesa do marido. O Ministério Público (MP-PR), porém, diz que Tatiane vivia um relacionamento abusivo. Familiares e amigos relataram que ela queria pedir o divórcio.
Uma amiga de Tatiane, Rosenilda Bielack, que conviveu com o casal na Alemanha, contou que a advogada era maltratada constantemente pelo marido, que é faixa roxa no jiu-jítsu. “Tudo era motivo para ele maltratar a Tati, falar coisas pesadas, pejorativas sempre”, afirmou.
Conversas por WhatsApp de Tatiane com Rosenilda mostram como estava a relação dela com o marido. Nas mensagens, entre março e junho deste ano, a advogada relatou sentir “medo” e disse que o marido tinha “ódio mortal” por ela.
Uma perícia feita no local da morte constatou que ela teve uma fratura no pescoço, característica de quem sofreu esganadura.
Os promotores estão analisando, agora, imagens e depoimentos das testemunhas e resultados de exames da Polícia Científica que começaram a sair.
Até o momento, o MP-PR tem em mãos o inquérito da Polícia Civil, que tem 400 páginas com 18 depoimentos, relatório detalhado da imagens das câmeras de segurança e o laudo do local da morte que mostra marcas no pescoço de Tatiane.
Ainda faltam os laudos da necropsia que deve indicar se a advogada foi morta antes de cair ou com a queda do quarto andar; da perícias nos celulares de Tatiane e de Luís Felipe; da perícia feita com ajuda de um boneco no prédio em que o casal morava e de laudos laboratoriais nos ossos da vítima.
Segundo o promotor Pedro Henrique Brazão Papaiz, Manvailer não forneceu a senha para desbloqueio do aparelho, que foi encaminhado ao Instituto de Criminalística.
A família de Tatiane criou páginas nas redes sociais para incentivar a luta contra o feminicídio.