O autoproclamado presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, surpreendeu, ao aparecer, no início da manhã, nas imediações da base aérea La Carlota, em companhia de Leopoldo López, que estava preso em casa, anunciando o apoio de militares para tirar Nicolás Maduro do poder na Venezuela.
Assim também como surpreendeu, nas primeiras horas, a reação do regime. A cúpula que rodeia Maduro denunciou a tentativa de golpe, atribuindo-a a um pequeno grupo de traidores, mas demorou para responder com a esperada truculência contra seus opositores. A relativa complacência durou pouco: o regime avança sobre manifestantes com blindados, bloqueia redes sociais, censura e interrompe transmissões de emissoras de rádio e TV a cabo.
O próprio Diosdado Cabello, considerado número dois do governo, admitiu que uma ala do temido Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional (Sebin) facilitou a libertação de Leopoldo López, líder do partido Vontade Popular, da prisão domiciliar, onde estava sob forte vigilância. A presença de López, que cumpre pena de 14 anos, circulando livremente pelas ruas, tornou-se o símbolo mais emblemático deste movimento, que a oposição chama de fase final da Operação Liberdade.
Soldado fiel a Juan Guaidó aponta seu fuzil contra forças de Maduro diante da base aérea ‘La Carlota’ durante confronto em Caracas — Foto: Boris Vergara/AP
O cenário é tão tenso quanto nebuloso. Questões ainda sem resposta em ambos os campos são o sinal mais expressivo de que a solução para o impasse que mobiliza o país há três meses ainda está distante e não será pacífica. Guaidó obteve mesmo o apoio expressivo das Forças Armadas Venezuelanas, principal pilar de sustentação do regime, com seus dois mil generais? Por que estes comandantes não apareceram a seu lado? Onde está Nicolás Maduro? Por que ainda não fez um pronunciamento em cadeia nacional?
Até agora, altos funcionários do regime dão conta da resposta à suposta adesão dos militares a Guaidó, sempre para dizer que tudo está sob controle e que os militares revoltosos foram enganados. Ao mesmo tempo em que chama os desertores de traidores, o ministro da Defesa, Vladimir Padriño, afirma que todas as unidades militares reportam normalidade. Mas as imagens que saem da Venezuela nesta manhã só refletem o quanto é grave e anormal a situação do país.
Para Guaidó, o momento é decisivo. Se o apoio que ele diz ter de comandantes militares não se concretizar, seu movimento para derrubar Maduro e convocar novas eleições na Venezuela corre o risco de um fracasso retumbante.