No RN, 45 mil crianças e adolescentes são vítimas das piores formas do trabalho infantil

O Rio Grande do Norte tem cerca de 45 mil crianças e adolescentes de 5 a 17 anos sendo exploradas em atividades que constam da Lista das Piores Formas de Trabalho Infantil (Lista TIP), criada através de decreto de 2008. Os dados são divulgados dias depois de o presidente da República Jair Bolsonaro enaltecer o trabalho infantil em redes sociais.

A auditora fiscal da Secretaria de Trabalho no Rio Grande do Norte, Marinalva Cardoso Dantas, destaca que esses dados são alarmantes mas até 2015, eram 70 mil. Ela  aponta que a exploração do trabalho de crianças e adolescentes no RN é móvel e, hoje, o grande volume de pedintes e vendedores nos cruzamentos das principais avenidas da capital obedece à lógica perversa de adultos submetendo vulneráveis à situação de risco através do trabalho infantil, inclusive.

Há depoimentos feitos a grupos de abordagem do município de Parnamirim, onde crianças e adolescentes afirmam que trabalham para arrecadar dinheiro para facções criminosas. O procurador regional do Ministério Público do Trabalho, Xisto Tiago de Medeiros Neto,  explica que as piores formas de trabalho infantil ocorrem em locais considerados insalubres, perigosos, penosos ou em situações de risco e de exploração da criança. Quanto à natureza das tarefas, identifica-se com maior gravidade no âmbito das atividades criminosas: exploração sexual comercial, pornografia e tráfico de drogas.

Em 2018, o Ministério do Trabalho lavrou 12 autos de infração por em supermercados, limpeza urbana, postos de gasolina e oficinas de automóveis. Este ano já foram 9 autos de infração em 68 empresas que incluem  atividades em lixão, padarias, bares, lavajatos, RAIS (Declaração de alvará judicial inexistente para trabalhar abaixo da idade mínima, muito comum em empresas familiares).

O trabalho infantil, que priva crianças e adolescentes de ter uma infância normal, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), é uma atividade ilegal e violação grave  aos direitos humanos. Marinalva Dantas disse que o Brasil era conhecido internacionalmente pela segurança nos dados pesquisados mas desde 2016 que o IBGE não publica novos dados sobre o trabalho infantil. Os 45 mil apontados por ela são resultados de cruzamento de variáveis do próprio Instituto de Estatísticas. Por decisão governamental, a próxima PNAD (Pesquisa Nacional Por Amostragem de Domicílio) não terá mais a faixa etária dos 14 anos.

Nas ruas de Natal estão a amostragem real do aumento de crianças e adolescentes, focaliza a auditora do Trabalho. “É um número enorme de crianças até nove anos nos sinais e cruzamentos”, focaliza.  As avenidas Salgado Filho, Alexandrinho de Alencar, Prudente de Morais, Roberto Freire, Ayrton Senna, Maria Lacerda, a rotatória de Ponta Negra e a praia são pontos de ajuntamento desse público, destaca.

Como ela chegou a essa faixa etária?  “Eu quando paro meu carro, eu deixo que a criança se aproxime. Ela vem com o rodinho (para limpar o parabrisa) e faço perguntas”, comenta sobre seu método de abordagem. O roteiro de perguntas inclui origem, motivo que a levou para as ruas, se estuda, o que os pais fazem, como é feito o deslocamento de casa para a rua e vice-versa. “Não interrogo. Ajo com naturalidade e curiosidade de qualquer pessoa”, explica a auditora. Ela complementa que seu dia a dia é dedicado ao trabalho e que chega a comprar panos de pratos vendidos por criança somente para esticar a conversa que acaba se transformando em dados de relatórios.
Campanha do MPT e supermercados combate exploração
Os auditores do Trabalho e grandes redes de supermercados e postos de combustíveis em Natal estão unidos no combate ao trabalho infantil, explica a auditora Fiscal do Trabalho no RN, Marinalva Dantas.
Nos supermercados, exploradores, geralmente  mulheres, levam crianças para pedir a consumidores leite Ninho em pó e fraldas Pampers, as mais caras em seus segmentos.
“Quem compra os produtos pensando estar fazendo caridade, na verdade, contribui para a exploração do trabalho infantil”, diz Marinalva Dantas.
Há 26 anos no setor de fiscalização, ela conta que a exploração do trabalho infantil pode parecer invisível, na maioria das vezes, mas é uma situação concreta que está no dia-a-dia de todos.
Nos supermercados, exploradores, geralmente  mulheres, levam crianças para pedir a consumidores leite Ninho em pó e fraldas Pampers, as mais caras em seus segmentos.
“Quem compra os produtos pensando estar fazendo caridade, na verdade, contribui para a exploração do trabalho infantil”, diz Marinalva Dantas.
Em 1993, quando foi iniciado o combate ao trabalho infantil, lembra a auditora, se partiu do zero para implementar ações que começaram pela erradicação nas cerâmica no interior do Estado.
“O  trabalho infantil é mais comum no interior por causa da estagnação econômica, e não há trabalho para adolescentes nem emprego nas empresas para a aprendizagem”, descreve.
Hoje, a situação mais degradante para crianças está em matadouros clandestinos no interior do Estado e nas casas de farinha. Apesar da atuação que já fechou e interditou matadouros, a clandestinidade ainda é grande nesses setores, frisa.
Dados sobre o trabalho Infantil
Brasil 
De 2014 para 2015

Houve redução do trabalho infantil na faixa etária de 5 a 17 anos
659 mil crianças/adolescentes Foram afastadas do trabalho
Queda de 19,8%

2014 3.331 milhões
2015 2.672 milhões

PNAD/2006 a PNAD 2015
Aumento do trabalho infantil para a faixa etária de 5 a 17 anos
De 2014 para 2015 ocorreu redução (de 3.331 milhões para 2.672 milhões)
A redução foi suficiente para compensar o acréscimo de 2013 para 2014, e ainda ficar com número inferior a 2013 (3.188 milhões)

Rio Grande do Norte
Série histórica de redução  do  trabalho infantil
Para a faixa etária de 5 ano ou mais de idade (mil pessoas)

2006: 82 mil
2007: 100 mil
2008: 87 mil
2009: 84 mil
2011: 57 mil
2012:  41 mil
2013: 46 mil
2014: 40 mil
2015: 41 mil
Fonte: PNAD /IBGE

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