Uma desempregada de 34 anos, de Engenheiro Coelho (SP), vive uma situação atípica na busca pelo auxílio emergencial de R$ 600 oferecido pelo Governo Federal a quem perdeu o emprego e a renda por causa da pandemia do coronavírus. Depois de se cadastrar no aplicativo, recebeu a mensagem de que não poderia receber o dinheiro por estar “morta”. A Dataprev afirma que as informações são obtidas após levantamento de bancos de dados de cartórios de todo o país e das informações cadastradas pelos cidadãos.
Vanessa da Silva Oliveira Ribeiro está sem emprego desde antes do coronavírus chegar ao país, mas contava com o dinheiro do trabalho do marido, o motorista de ônibus Adilson Aparecido de Oliveira. Ele perdeu o emprego, e a alternativa seria o auxílio. No dia 7 de abril, fez o cadastro. Pouco mais de três semanas depois, houve a confirmação de que os dados foram incluídos no sistema.
Mas, no dia 15 de maio, quando abriu o aplicativo, a surpresa. “Meu pedido foi negado porque constava que eu estava morta. Eu fiquei chocada”, conta. Procurou uma agência da Caixa Econômica Federal, e foi informada que a solicitação deveria ser feita à Dataprev. Até agora, nenhuma resposta.
Procuramos a Dataprev, que informou que os resultados de óbitos são obtidos por meio do Sistema de Controle de Óbitos – versão Cartório (SISOB) – e do Sistema Nacional de Informações de Registro Civil (SIRC), bases alimentadas pelos cartórios de todo o País.
“Sugerimos que os requerentes se dirijam aos cartórios, onde registraram certidão de óbito na família para verificar se o CPF não foi inserido erroneamente no documento”, informa o órgão, em nota. “A Dataprev realiza o processamento dos pedidos do auxílio emergencial por meio do cruzamento das informações cadastradas pelos cidadãos no portal ou aplicativo com os dados das bases oficiais disponíveis no momento da análise”, completa.
Vanessa conta que chegou a procurar o cartório de Engenheiro Coelho para checar a situação do CPF. “O documento mostra que está tudo certo, regularizado, e que não estou morta. Antes disso tudo, até fui cadastrar minha biometria para poder votar nas eleições deste ano, e ninguém me disse que eu não estava viva”, lembrou.
A reportagem entrou em contato com o Ministério da Cidadania para verificar o que pode ser feito no caso de Vanessa. Assim que a informação por passada, o texto será atualizado.
“Dinheiro mais que necessário”
Quando postou nas redes sociais o print da tela informando que estava morta, os comentários dos amigos foram da surpresa até a ironia. “Alguns até brincaram, dizendo que não foram convidados pro meu enterro. A gente precisa ver bom humor em tudo. Mas, todos estavam indignados com o que aconteceu”, comentou.
Casado com Vanessa há 13 anos, Adilson também fez o cadastro no aplicativo da Caixa Econômica Federal para ver se conseguia o benefício. “Meu pedido de auxílio foi recusado com a justificativa que dois membros da família já tinham conseguido o auxílio. Só que meu filho mais velho tem apenas 13 anos”, questiona.
O casal tem quatro filhos. A caçula, que tem apenas dois anos, precisou passar recentemente por uma cirurgia cardíaca. “Minha filha nasceu com um problema no coração e vem passando por vários procedimentos. Mesmo antes do coronavírus eu já não podia sair de casa direito para não contaminá-la”, disse Vanessa, que obedece rigorosamente o isolamento e as medidas adotadas pelos governos municipal e estadual.
Desde que o marido perdeu o trabalho, os dois contam com a ajuda de amigos e familiares e também alguns bicos. “O dinheiro que tenho recebido é pouco. Esse auxílio seria fundamental para nós”, conta Adilson.