Maduro afirma que presidente colombiano tentou assassiná-lo

O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, sua mulher, Cilia Flores, e o alto comando militar da Venezuela foram retirados às pressas neste sábado, 4, da celebração do 81º aniversário da Guarda Nacional Bolivariana (GNB) em Caracas depois de ocorrer pelo menos uma explosão, que o Governo atribuiu a drones com supostos explosivos que sobrevoavam a área. Segundo o regime, os aparelhos foram derrubados por franco-atiradores. Em um discurso televisionado duas horas depois do incidente ocorrido na avenida Bolívar, Maduro acusou diretamente o presidente colombiano em fim de mandato, Juan Manuel Santos, de ter tentado assassiná-lo por meio de sicários que, segundo ele, executaram o suposto atentado. É uma acusação sem precedentes, mesmo em meio à aberta hostilidade verbal dos dois Governos.

“Tentaram me assassinar no dia de hoje”, disse Nicolás Maduro no Palácio de Miraflores. “O nome de Juan Manuel Santos está por trás deste atentado.” Maduro se referiu várias vezes à “ultradireita” colombiana e venezuelana. Também afirmou que foram detidos vários suspeitos e garantiu que “todas as provas” já estão em poder das forças de segurança. Para os responsáveis, prometeu “justiça e o máximo castigo”. “Que se esqueçam do perdão!”, advertiu Maduro.

O Ministério de Relações Exteriores da Colômbia rejeitou “enfaticamente as acusações” contra Santos. “São absurdas e sem nenhum fundamento as alegações de que o mandatário colombiano seria o responsável pelo suposto atentado contra o presidente venezuelano”, afirmou o ministério em um comunicado divulgado na noite de sábado. “Já é costume que o mandatário venezuelano culpe permanentemente a Colômbia de qualquer tipo de situação. Exigimos respeito pelo presidente Juan Manuel Santos, pelo Governo e pelo povo colombiano”, acrescentou.

A primeira versão oficial do incidente foi dada por Jorge Rodríguez, vice-presidente de Comunicação, Cultura e Turismo, que afirmou ter se tratado de um atentado frustrado contra Maduro e seu Gabinete. “Exatamente às 17h41 [18h41 em Brasília] foram ouvidas algumas detonações que as investigações já estabelecem claramente que corresponderam a artefatos voadores do tipo drone, vários artefatos voadores, que continham uma carga explosiva detonada nas proximidades da tribuna presidencial e em algumas áreas do desfile”, disse Rodríguez.

Um militar venezuelano ferido, momentos depois do incidente
Um militar venezuelano ferido, momentos depois do incidente XINHUA AP
A agência Associated Press assegura que “vários bombeiros” presentes no local do incidente “contradizem” a versão do Governo venezuelano. Segundo a AP, três agentes disseram de forma anônima que se tratou, na verdade, da explosão de um bujão de gás em um apartamento próximo.

Um militar presente na cerimônia, que estava a poucos metros de Maduro, declarou ao EL PAÍS seu ceticismo em relação à versão oficial. Não viu nenhum drone. Garante que não foram ouvidos disparos, por isso a versão de que as forças de segurança atiraram contra um drone não é “crível”. O militar, que deu sua versão sob condição de não ter seu nome divulgado, disse que se escutou uma explosão “como de morteiro” e a certa altura.

Segundo a versão do Governo, sete membros da GNB ficaram feridos. Maduro e seus funcionários saíram ilesos. O ato oficial era transmitido ao vivo por todas as TVs locais, mas no momento do incidente a transmissão se cortou repentinamente.

Na gravação de um trecho da transmissão, distribuída em redes sociais, vê-se como Maduro, sua mulher e as outras pessoas que estavam na tribuna olham para o céu durante o discurso. De repente, fazem um gesto como se se protegessem de algo. O som do vídeo se corta nesse momento e se ouvem vozes confusas. Em seguida, outra câmera mostra os militares que estavam no desfile abandonando sua formação e saindo correndo.

Antes de Maduro acusar o presidente colombiano, o Governo culpou imediatamente a oposição pelo suposto atentado. “Compatriotas, a direita insiste na violência para tomar espaços que não podem [conquistar] pelos votos, nosso irmão Presidente Nicolás Maduro e o alto comando político e militar estão ilesos após o atentado terrorista durante o ato da GNB. Não poderão conosco”, escreveu Diosdado Cabello, presidente da Assembleia Nacional Constituinte, em sua conta no Twitter.

Em meio à confusão sobre o que ocorreu, o grupo oposicionista Movimento Nacional Soldados de Flanela reivindicou, pelo Twitter, a autoria do ataque. “A operação era sobrevoar 2 drones carregados com C4, o objetivo a tribuna presidencial, franco-atiradores da guarda de honra derrubaram os drones antes de chegar ao objetivo. Demonstramos que são vulneráveis, não conseguimos hoje, mas é questão de tempo”, escreveu o grupo em sua conta no Twitter, criada em março de 2014.

Também circulou um comunicado de supostos oficiais militares que chama o ataque de Operação Fênix. No documento, são anunciadas “ações militares”, supostamente apoiadas por artigos da Constituição, para restabelecer a democracia no país. “Povo da Venezuela, para culminar com êxito esta luta emancipadora, é necessário que saiamos todos às ruas, sem recuar, apoiando nossos militares constitucionais e líderes políticos civis para a tomada e consolidação do poder, até a formação de uma Junta de Governo de Transição”, acrescenta o comunicado.

A Espanha reagiu na manhã deste domingo ao ocorrido. Em um comunicado, o Governo do socialista Pedro Sánchez expressou sua “firme condenação” ao suposto ataque e ressaltou que a crise que atravessa a Venezuela “precisa de uma saída pacífica, democrática e negociada entre venezuelanos”. Essa saída deve ter como “elementos fundamentais” o retorno à institucionalidade democrática, o respeito aos direitos humanos, a libertação dos presos políticos e a atenção às necessidades urgentes da população”, destaca o comunicado espanhol, divulgado pelo Ministério de Relações Exteriores.

Os oficiais da Força Armada Nacional Bolivariana confiscaram os equipamentos de gravação e os vídeos da TV digital privada VivoPlay, que fazia cobertura jornalística do evento.

Após esse incidente, o Sindicato Nacional de Trabalhadores da Imprensa afirmou que se desconhece o paradeiro dos jornalistas e trabalhadores da VivoPlay e da TV Venezuela Neidy Freytes, César Díaz e Alfredo Valera. “Eles permanecem desaparecidos, depois que a GNB os abordou na avenida Bolívar e os impediu de transmitir”, denunciou o sindicato.

EL PAÍS

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