O Itamaraty passou a procurar desde sábado (23) brasileiros residentes na Venezuela para saber se há interesse em obter ajuda para deixar o país. “Em caso de agravamento da situação política na Venezuela, teria interesse em retornar ao Brasil, caso o governo brasileiro venha a oferecer meios de transporte?”, indaga, em um formulário.
O questionário, classificado como um alerta, tem sido enviado por email e também disponibilizado no site do consulado do Brasil em Caracas.
O Itamaraty estimou há um mês que havia 12.800 cidadãos brasileiros no país vizinho, que vive uma crise humanitária com o endurecimento da ditadura de Nicolás Maduro e o cerco de dezenas de países, Brasil inclusive.
Procurado nesta segunda-feira (25) pela reportagem, o Ministério das Relações Exteriores não atualizou o número de residentes até a publicação desta reportagem. Tampouco respondeu qual é a orientação do governo aos brasileiros vivendo na Venezuela e qual assistência consular pretende oferecer àqueles que queiram deixar o país.
Cidadãos brasileiros estabelecidos há anos na Venezuela receberam o contato do consulado com surpresa, por não terem feito qualquer solicitação prévia.
“Em vista da situação por que passa a Venezuela, este consulado-geral está coletando informações dos brasileiros residentes no país para fins de adotar medidas cabíveis de assistência consular”, introduz o Itamaraty na correspondência.
Há também perguntas sobre quantidade de dependentes e endereço completo.
Ainda no sábado, o consulado emitiu “aviso importante” em que “alerta aos cidadãos brasileiros residentes na Venezuela sobre os riscos decorrentes da atual situação, e recomenda que evitem as áreas de conflito e limitem a sua mobilidade ao estritamente necessário”.
“O consulado-geral recomenda, também, aos turistas brasileiros que evitem viajar à Venezuela neste momento e enquanto perdurar a situação.”
Em dezembro de 2017, o então embaixador brasileiro na Venezuela foi declarado “persona non grata” —expulso, para efeitos práticos. Desde então, o Brasil mantém apenas o consulado como representação diplomática no país.
Nesta segunda-feira, o Grupo de Lima descartou a realização de uma intervenção militar na Venezuela após reunião em Bogotá.
No texto, o grupo de 14 países da região, entre eles o Brasil, afirma que a transição democrática na Venezuela deve ser conduzida “pacificamente pelos próprios venezuelanos”, com apoio de meios políticos e diplomáticos e “sem o uso da força”.
No entanto, os conflitos nas fronteiras da Venezuela com Brasil e Colômbia, decorrentes da tentativa de entrada de ajuda humanitária, já deixam mortos e feridos.