Quando Rômulo Octavio chegou às 6h desta segunda-feira (6) ao Vale do Anhangabaú, no Centro de São Paulo, uma enorme fila já havia tomado conta do Viaduto do Chá. Mais de 6 mil desempregados enfrentaram o frio e a chuva desde a madrugada em busca de uma oportunidade de trabalho.
Um mutirão organizado pela União Geral dos Trabalhadores (UGT), Sindicato dos Comerciários de São Paulo e Sindicato dos Padeiros em parceria com 27 empresas oferece 4 mil vagas em diversas áreas e perfis, de jovem aprendiz ao ensino superior completo.
Rômulo saiu de sua casa em Guarulhos às 4h, mas por pouco não perdeu a viagem. Foi o último a receber uma das 1.800 senhas que foram distribuídas para atendimento nesta segunda. Quem chegou depois recebeu uma senha diferente para tentar passar pela triagem nos próximos dias.
“Eu saí de longe, peguei várias conduções, andei para chegar aqui, mas dei sorte. Tinha gente na frente da fila que chegou no sábado para não perder o lugar”, diz Rômulo Octavio.
Aos 22 anos, Rômulo afirma que trabalha fazendo bicos desde o começo do ano. “Não acho trabalho na região onde eu moro. Mas agora minha esposa está grávida. Com carteira assinada é melhor, por isso vim aqui hoje”. Sem ensino superior, ele tem uma vaga na área de logística.
“Imagino que até sexta-feira ainda vamos continuar os atendimentos. A fila só cresce, principalmente porque é um lugar estratégico na saída do metrô. Mesmo com a chuva tivemos uma procura muito grande”, diz o presidente da UGT, Ricardo Patah.
“Esse tipo de campanha dá uma certa esperança porque muita gente não tem nem o pão para colocar na mesa. É muito triste ver essa questão do desemprego. O brasileiro gosta de trabalhar, quer trabalhar, só precisa de uma oportunidade”, afirma Patah.
O frio não espantou as amigas Bruna Rodrigues e Joyce Cristina, ambas de 22 anos, que vieram de Embu das Artes, na Região Metropolitana. Prevenidas, chamavam atenção na fila enroladas em uma coberta. “Eu já trabalhei como recepcionista e auxiliar de gabinete, mas está difícil arrumar trabalho porque em todo lugar exigem muita experiência”, diz Bruna.
“Eu sou artista plástico também. Tentei empreender, mas não deu certo. Quero agora voltar para o mercado formal, mas percebo que minha idade acaba sendo um empecilho para as empresas”, afirmou.
A auxiliar de limpeza da área hospitalar Ivonete Ataíde, de 53 anos, também enfrenta dificuldades para recolocação no mercado. Desempregada há mais de um ano, ela afirma que já entregou diversos currículos sem sucesso.
“Eu tenho experiência, tenho carta de recomendação. Acredito que não esteja conseguindo por causa da idade”, diz.
“Desde que eu saí do estágio não consigo achar algo na minha área. Mas eu preciso de um trabalho para me manter até me formar e conseguir prestar concursos”, afirma. O currículo dele foi selecionado para uma nova avaliação, desta vez na sede da empresa.
Jailton Xavier foi um dos sortudos que já saíram do mutirão com a certeza do emprego. Aos 26 anos, ele estava sem emprego há 3 e desde então trabalhava como autônomo. Após ser selecionado para a vaga de ajudante de copeiro em um restaurante, ele foi encaminhado para começar no trabalho já nesta segunda-feira.
“Contei com Deus e a sorte. O trabalho é um pouco longe, mas fazer o que? É triste pensar que muita gente que está aí nessa fila não vai conseguir”, diz.
G1