Direito à propriedade privada e casamento gay: o que pode mudar em Cuba com a nova Constituição

Assembleia Nacional do Poder Popular de Cuba deve concluir neste domingo (22) o debate e a votação da proposta de uma nova Constituição do país comunista. São 224 artigos que, se aprovados, podem configurar uma reforma profunda e modernizar a legislação cubana. Um dos principais objetivos é adequar o texto às mudanças econômicas e sociais pelas quais o país passou nos últimos anos.

Entre as principais mudanças estão o reconhecimento à propriedade privada, a eliminação do termo ‘comunismo’ da Carta Magna e a possibilidade da legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo.

A assembleia constituinte, comandada pelo ex-presidente e atual líder do Partido Cumunista, Raúl Castro, começou as discussões em plenário no sábado (21). Depois de aprovada pelos deputados, a proposta de Constituição passará por consulta popular, e a versão final será votada em um referendo nacional, previsto para o fim do ano.

O anteprojeto constitucional começou a tomar forma depois que Raúl Castro passou a presidência para Miguel Díaz-Canel, em abril. A proposta vai substituir a Constituição escrita em 1976, sob influência soviética e alinhada ao modelo de Estado comunista aplicado no país por Fidel Castro após a Revolução de 1959.

Assembleia Nacional de Cuba vota 224 artigos de nova Constituição

Assembleia Nacional de Cuba vota 224 artigos de nova Constituição

Entenda abaixo as principais mudanças previstas na nova Constituição cubana:

Fim do comunismo?

Segundo o jornal estatal Granma, o rascunho do texto elimina o termo “comunismo” da nova Constituição e só menciona o “socialismo” como política de Estado. O novo documento vai suprimir do artigo 5 um trecho em que fala em “avanço para a sociedade comunista”.

“Isto não quer dizer que renunciamos às nossas ideias, mas que em nossa visão pensamos em um país socialista, soberano, independente, próspero e sustentável”, disse o presidente da Assembleia Nacional, Esteban Lazo.

Entretanto, o esboço ainda mantém monopólio do poder do Partido Comunista, considerado órgão máximo do país.

Homem lê o jornal estatal Granma em Havana (Foto: REUTERS/ Stringer)

Homem lê o jornal estatal Granma em Havana (Foto: REUTERS/ Stringer)

Direito à propriedade privada

Outro artigo importante é o que reconhece e legitima a propriedade privada como parte da economia do país. No final de 2011, em meio a várias reformas na economia, Raúl Castro já tinha autorizado a compra e venda de casas, que foi proibida durante décadas.

Mas o conceito de propriedade privada ainda era ignorado pela Constituição, já que o texto de 1976 o considerava um resquício do capitalismo. A Carta Magna só reconhecia a propriedade estatal, cooperativa, de agricultor, pessoal e de sociedade conjunta.

A partir de dezembro, o governo cubano também vai voltar a liberar licenças de negócios privados, mas vai limitar a apenas um negócio por pessoa para evitar o aumento da diferença social no país.

Mulher descansa em frente à TV em Havana durante sessão do Parlamente que analisa nova Constituição para Cuba (Foto: REUTERS/ Stringer)

Mulher descansa em frente à TV em Havana durante sessão do Parlamente que analisa nova Constituição para Cuba (Foto: REUTERS/ Stringer)

Casamento gay

Uma das principais mudanças trata da igualdade de gênero e dá sinal verde para a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Depois da revolução comunista de 1959, milhares de homossexuais foram perseguidos no país. Décadas depois, o próprio Fidel Castro pediu desculpas pela política.

Na proposta em discussão, o novo texto define casamento como “união entre duas pessoas”. Mas não diz que qual sexo. A atual Constituição limita o casamento à “união voluntária de um homem e uma mulher com capacidade jurídica para o fazer”.

Há mais de uma década, a deputada Mariela Castro, filha do ex-presidente Raúl Castro, lidera a defesa das minorias em Cuba, incluindo a comunidade LGBT cubana.

A nova Constituição também incluirá o princípio da não discriminação devido à identidade de gênero.

Cartaz contrário ao casamento gay em Cuba (Foto: REUTERS/ Stringer)

Cartaz contrário ao casamento gay em Cuba (Foto: REUTERS/ Stringer)

Mandato de 10 anos e primeiro-ministro

No âmbito político, o novo texto institui um modelo de governo com presidente da República – que continuará sendo eleito pelo Parlamento – e terá um primeiro-ministro. Esse formato, previsto na reforma constitucional, é similar ao que vigorava antes de 1976.

A nova Constituição também impõe limite de dois mandatos consecutivos de cinco anos ao presidente.

Além disso, será formado um Conselho de Ministros, que constitui o governo da República e estará sob a direção de um primeiro-ministro, cargo que se propõe criar”, mas ainda não foram dados detalhes sobre como funcionará o posto ou quem exercerá.

Ainda de acordo com a proposta, o Partido Comunista será mantido como única força política no país.

Bandeira de Cuba é clicada pendurada ao lado de fotografias de Raúl e Fidel Castro (Foto: Reuters/Stringer)

Bandeira de Cuba é clicada pendurada ao lado de fotografias de Raúl e Fidel Castro (Foto: Reuters/Stringer)

POR G1

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