Da cadeia, Lula articulou ações que resultaram no isolamento de Ciro

Preso há 116 dias na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, Luiz Inácio Lula da Silva coordenou os principais movimentos da pré-campanha até agora e conseguiu, antes mesmo do início oficial da disputa, isolar Ciro Gomes (PDT) e abrir espaço para uma candidatura mais competitiva do PT na sucessão de Michel Temer.

Nos cálculos de Lula, a eleição será novamente polarizada entre direita e esquerda e só há espaço para um nome de cada campo. Ciro seria o adversário direto do PT na competição por votos, principalmente entre os eleitores do Nordeste.

Desde meados de junho, o ex-presidente então articulou movimentos, executados pela cúpula do PT, que desidrataram antecipadamente a candidatura de Ciro. Como o substituto de Lula só será lançado a 20 dias da eleição, os petistas trabalharam para impedir que o ex-governador do Ceará ganhasse musculatura que o consolidasse como nome da esquerda antes que o herdeiro petista seja conhecido.

Lula mandou recados por interlocutores que o visitam frequentemente na prisão e deu aval para decisões terminativas da presidente de seu partido, Gleisi Hoffmann (PR), para pelo menos cinco atos que reverberaram contra Ciro: sinalizou com a vice do PT para Manuela D’Ávila (PC do B) no momento em que o partido era assediado pelo PDT; repreendeu governadores petistas que defendiam aliança com Ciro; assistiu ao PR, de Valdemar Costa Neto, levar o centrão para a órbita de Geraldo Alckmin (PSDB) ao invés de fechar acordo com o PDT e, em seguida, fez pesar sua relação familiar de anos na negativa do empresário Josué Alencar (PR) em ser vice do tucano.

Por fim, nesta quarta-feira (1º), Lula teve participação direta na negociação que neutralizou o PSB na eleição nacional, afastando-o definitivamente de Ciro Gomes.

O partido de Eduardo Campos, morto em 2014 e amigo e confidente do ex-presidente, estava sendo cortejado pelo ex-governador cearense, mas deve anunciar neutralidade na disputa ao Planalto no domingo (5). O golpe em Ciro será imediato: isolado, ele contará com apenas 36 segundos para fazer campanha no rádio e na TV.

As ações partidárias, sobre PC do B e PSB, foram coordenadas com Glesi, que visita o ex-presidente religiosamente toda semana, mas as outras movimentações foram mais diluídas, com a participação de diversos atores.

Cotados como plano B caso Lula seja impedido de concorrer ao Planalto, Jaques Wagner e Fernando Haddad foram fundamentais na ponte com o PR.

Em 12 de julho, Jaques esteve pessoalmente com Valdemar Costa Neto e, uma semana depois, Haddad telefonou para outra liderança do PR. Todos queriam saber sobre a possibilidade de Josué Alencar ser vice na chapa petista e, caso isso não ocorresse, qual caminho a sigla indicaria ao centrão se resolvesse seguir com o grupo.

Valdemar queria apoiar Lula, mas avalia que o ex-presidente será barrado pela Lei da Ficha Limpa e não estará na urna em outubro. Inserido no centrão, jogou pela preferência lulista, reorientando tendências e sacramentando o primeiro revés ao Ciro quando selou o apoio do bloco a Geraldo Alckmin.

Josué, por fim, também levou em conta sua relação histórica com Lula ao negar ser vice do tucano. O pai do empresário foi vice do petista nos oito anos de governo e Lula foi o principal fiador de sua filiação ao PR.

Caso pudesse concorrer, o ex-presidente queria reeditar a chapa com a nuance empresarial, de aceno à classe média e ao mercado.

Agora, dizem petistas que já admitem, mesmo que nos bastidores, uma eleição sem Lula: o ideal é um vice com a cara do PT. E está aí a opção Manuela.

FOLHA

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