Clubes potiguares buscam certificação de clube formador da CBF

A montagem de um elenco forte e competitivo demanda cada vez mais dinheiro em contratações ou salários seja em cenário internacional, nacional ou estadual. Quando um clube consegue implementar a utilização de jogadores da categoria de base no time principal, esse feito é comemorado por diminuir o investimento em reforços e  proporcionar a chance de lucro em uma provável negociação, mostrando retorno no que foi investido nas divisões inferiores ao profissional.

O ABC conseguiu, em pouco mais de um ano, não só fazer uso de jogadores que vieram de sua categoria de base, mas também obter lucro com negociações envolvendo alguns destes atletas. Na reta final da Série B do ano passado, em meio à greve de boa parte do elenco, jogadores que até então faziam parte do elenco sub-19 do alvinegro tiveram sua chance em uma competição oficial e não fizeram feio, contribuindo ativamente na vitória contra o Londrina por 3 a 0 no dia 28 de outubro. Os gols do duelo foram marcados por Dalberto, Matheus Matias e Fessin, os dois últimos tendo recebido suas primeiras chances naquela reta final de competição e chamando atenção de gigantes do futebol brasileiro. Já no time principal em 2018, foram negociados com o Corinthians-SP. Outros jogadores que pouco ou nada atuaram no profissional como os meias Jhonata e Fernandinho, também foram negociados, estes para o Grêmio-RS, e também se converteram em dinheiro para o caixa do clube.
Trabalho nas bases do ABC, coordenado por Gilmar Oliveira, rendeu lucro ao clube na venda direta
Trabalho nas bases do ABC, coordenado por Gilmar Oliveira, rendeu lucro ao clube na venda direta

Porém, foi uma negociação que não envolveu diretamente o alvinegro que levantou o debate sobre o clube ser ou não reconhecido como formador, segundo certificação oficial da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). No final de julho deste ano, o meia Rodriguinho deixou o Corinthians-SP rumo ao Pyramids-EGI por aproximadamente R$ 22 milhões de reais e o ABC teve direito a uma porcentagem do valor final da negociação graças ao mecanismo de solidariedade da FIFA. O benefício garante aos clubes que o atleta defendeu dos 12 aos 23 anos uma porcentagem do valor final de qualquer negociação, como uma espécie de compensação para quem contribuiu com a formação e educação dos jogadores no início de sua carreira. No entanto, essa contribuição da entidade máxima do futebol por vezes é confundida com o Certificado de Clube Formador (CCF) da CBF, que entre outras vantagens permite que um clube firme vínculo amador com atletas da base e garante o pagamento de uma compensação financeira em transferências nacionais, mas não é critério obrigatório para um clube ter direito ao benefício da FIFA.

E foi graças a esse mecanismo que o clube potiguar teve direito a R$ 450 mil do montante total da negociação de Rodriguinho. O valor corresponde a pouco mais de 2% do montante e é referente ao período que o meia defendeu o clube. De acordo com o executivo de futebol do ABC, Giscard Salton, essa quantia ainda não foi repassada por se tratar de uma movimentação internacional que demanda mais tempo. A previsão do dirigente para que a situação esteja solucionada é de três meses. Apesar de não ter sido necessário possuir o certificado de clube formador para ter direito à fatia do valor investido em Rodriguinho, Salton conta que o ABC tem como objetivo buscar a certificação bem antes da negociação envolvendo o meia potiguar com o clube egípcio se concretizar.
“Buscar ser clube formador é minha meta desde quando cheguei aqui. Fazer com que sejamos superavitários no futebol em relação à parte financeira e, logo após, organizar a categoria de base para ser formadora. Ser formador é ter a preferência do primeiro contrato profissional e, em caso dele ser levado a qualquer um outro lugar, ter uma multa alta em cima do valor da bolsa captação, que é o montante investido no atleta para formá-lo, tudo estipulado em contrato”, conta o dirigente.

Por não ser detentor do CCF, o ABC deixou de ganhar receita em algumas transações nos últimos anos. De acordo com o dirigente, isso acontece porque o clube não tinha como, legalmente, comprovar que estes atletas passaram pelo clube e geraram custo. Para resolver a situação, Salton relata que o clube está montando, como ele mesmo descreve, ‘algumas equipes’ em busca de documentos necessários e traça um prazo para tornar-se CCF junto à CBF.

“Uma questão de organização e tempo. A partir da semana que vem algumas equipes que preparamos irão em busca dos documentos necessários para que até o final do ano, se Deus quiser, ou até o início do ano que vem para que já tenha a formação dentro do nosso clube”, prevê o dirigente.

América quer obter certificação

O Alvirrubro coloca nas categorias de base a esperança de se restabelecer. Desde que assumiu a coordenação das categorias de base, em julho deste ano, Jocian Bento buscou fortalecer o setor do clube e pensa em colher frutos com isso. O dirigente comenta que em breve o clube anunciará uma parceria, como ele mesmo descreve, com “um gigante nacional” para que o América possa enviar e receber jogadores para períodos de teste ou em definitivo. A ação, segundo Jocian, faz com que o América estreite laços importantes com estes clubes. Para o dirigente, que acumula a função de treinador do sub-17 no momento, acreditar na base é fundamental para colher frutos em um futuro não muito distante.

Joacian Bento fez parcerias importantes buscando a certificação
Jocian Bento fez parcerias importantes buscando a certificação

“Já iniciamos o processo com a parte jurídica, buscando o que é necessário e fazendo parcerias com  a UNI-RN e o Futebol Interativo que nos dará os profissionais necessários para conquistar. Não temos um prazo para concretizar a busca (pela certificação como clube formador). Pode ser antes ou depois, não dá pra cravar. Mas uma coisa pode ter certeza: o América vai ser clube formador. Creio que  em menos de 1 ano e meio nós seremos”, avalia Jocian.

O dirigente fala que o clube está recebendo jogadores do Brasil inteiro que estão fazendo testes e, em caso de aprovação, se integrando à base do clube. Quem chega se une aos que já estão em uma metodologia que, segundo Jocian, já mudou. Ele comenta que está sendo implantada uma filosofia do clube que não limita os treinadores, apenas faz com que os jogadores que façam parte das categorias de base do América saibam como o clube deve jogar.

“Quando assumi o cargo falei que queria que a base fosse profissionalizada e estamos fazendo medidas para isso. Criamos as categorias sub-11 e sub-13 sem acabar com as escolinhas e fortalecemos as que já existiam, com universalização da metodologia sem tirar a liberdade do treinador. Quem escala a tática e os jogadores é ele, mas todos devem saber que a filosofia é a mesma, tanto para o sub-11 quanto para o sub-17, para colher frutos e conseguirmos, daqui a dois anos, estar com atletas de qualidade no profissional”, comenta Jocian.

Certificado de Formador
De acordo o Regulamento Nacional de Registro e Transferência de Atletas de Futebol do ano de 2018, o Certificado de Clube Formador (CCF) é um documento dado a equipes especializadas na formação de jogadores que obedecem alguns critérios como técnicos e preparadores físicos exclusivos, participação em competições oficiais, programa de treinamento (local, horários, faixa etária, atividade escolar etc), além de assistência educacional e médica.

O certificado é necessário para o clube receber a chamada indenização por formação em transferências nacionais de um jogador de base, que ressarce os investimentos humanos, educacionais, técnicos e materiais feitos pelo clube formador em um atleta.

No Brasil, 43 clubes são portadores do CCF, sendo apenas cinco do Nordeste. Por enquanto Porto de Caruaru (PE) e Sport (PE),  Bahia e Vitória, são os que  possuem a CCF A, que dá ao clube a certificação por dois anos, o Ceará possui a CCF B, que garante a agremiação o reconhecimento por uma temporada, quando ele têm de cumprir uma série de exigências.

Mecanismo de Solidariedade garante direito

Se um atleta profissional transferir-se envolvendo alguma quantia financeira antes do fim do seu contrato em caráter definitivo ou temporário de um clube para outro antes de fim do contrato, os clubes que deram suporte à sua formação e educação receberão uma parte da indenização a título de contribuição de solidariedade, distribuída proporcionalmente ao número de anos em que o atleta esteve inscrito ao longo das temporadas que fez dos 12 aos 23 anos do atleta. Nas temporadas dos 12 aos 15 anos, o clube recebe 0,25% do valor final da transação, enquanto das temporadas dos 16 a 23 anos, o clube que o atleta atuou recebe 0,50% do valor final. Se o atleta contar com o jogador dos 12 aos 23, deterá 5% do montante investido na negociação.

O valor do mecanismo de solidariedade será pago pelo novo clube do atleta sem necessidade de solicitação por parte dos clubes formadores do atleta dentro dos 30 (trinta) dias seguintes à sua inscrição pelo novo clube. Compete ao novo clube do atleta calcular o valor da contribuição de solidariedade e distribuí-lo pelo número de anos ou proporcionalmente, se o atleta tiver atuado por vários clubes durante o período. O clube formador que não receber o pagamento ao qual faz jus pode postular o valor devido pelo  clube inadimplente junto à Câmara Nacional de Resolução de Disputas (CNRD).

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