A montagem de um elenco forte e competitivo demanda cada vez mais dinheiro em contratações ou salários seja em cenário internacional, nacional ou estadual. Quando um clube consegue implementar a utilização de jogadores da categoria de base no time principal, esse feito é comemorado por diminuir o investimento em reforços e proporcionar a chance de lucro em uma provável negociação, mostrando retorno no que foi investido nas divisões inferiores ao profissional.
Trabalho nas bases do ABC, coordenado por Gilmar Oliveira, rendeu lucro ao clube na venda direta
Porém, foi uma negociação que não envolveu diretamente o alvinegro que levantou o debate sobre o clube ser ou não reconhecido como formador, segundo certificação oficial da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). No final de julho deste ano, o meia Rodriguinho deixou o Corinthians-SP rumo ao Pyramids-EGI por aproximadamente R$ 22 milhões de reais e o ABC teve direito a uma porcentagem do valor final da negociação graças ao mecanismo de solidariedade da FIFA. O benefício garante aos clubes que o atleta defendeu dos 12 aos 23 anos uma porcentagem do valor final de qualquer negociação, como uma espécie de compensação para quem contribuiu com a formação e educação dos jogadores no início de sua carreira. No entanto, essa contribuição da entidade máxima do futebol por vezes é confundida com o Certificado de Clube Formador (CCF) da CBF, que entre outras vantagens permite que um clube firme vínculo amador com atletas da base e garante o pagamento de uma compensação financeira em transferências nacionais, mas não é critério obrigatório para um clube ter direito ao benefício da FIFA.
Por não ser detentor do CCF, o ABC deixou de ganhar receita em algumas transações nos últimos anos. De acordo com o dirigente, isso acontece porque o clube não tinha como, legalmente, comprovar que estes atletas passaram pelo clube e geraram custo. Para resolver a situação, Salton relata que o clube está montando, como ele mesmo descreve, ‘algumas equipes’ em busca de documentos necessários e traça um prazo para tornar-se CCF junto à CBF.
“Uma questão de organização e tempo. A partir da semana que vem algumas equipes que preparamos irão em busca dos documentos necessários para que até o final do ano, se Deus quiser, ou até o início do ano que vem para que já tenha a formação dentro do nosso clube”, prevê o dirigente.
América quer obter certificação
Jocian Bento fez parcerias importantes buscando a certificação
“Já iniciamos o processo com a parte jurídica, buscando o que é necessário e fazendo parcerias com a UNI-RN e o Futebol Interativo que nos dará os profissionais necessários para conquistar. Não temos um prazo para concretizar a busca (pela certificação como clube formador). Pode ser antes ou depois, não dá pra cravar. Mas uma coisa pode ter certeza: o América vai ser clube formador. Creio que em menos de 1 ano e meio nós seremos”, avalia Jocian.
O dirigente fala que o clube está recebendo jogadores do Brasil inteiro que estão fazendo testes e, em caso de aprovação, se integrando à base do clube. Quem chega se une aos que já estão em uma metodologia que, segundo Jocian, já mudou. Ele comenta que está sendo implantada uma filosofia do clube que não limita os treinadores, apenas faz com que os jogadores que façam parte das categorias de base do América saibam como o clube deve jogar.
Certificado de Formador
De acordo o Regulamento Nacional de Registro e Transferência de Atletas de Futebol do ano de 2018, o Certificado de Clube Formador (CCF) é um documento dado a equipes especializadas na formação de jogadores que obedecem alguns critérios como técnicos e preparadores físicos exclusivos, participação em competições oficiais, programa de treinamento (local, horários, faixa etária, atividade escolar etc), além de assistência educacional e médica.
O certificado é necessário para o clube receber a chamada indenização por formação em transferências nacionais de um jogador de base, que ressarce os investimentos humanos, educacionais, técnicos e materiais feitos pelo clube formador em um atleta.
No Brasil, 43 clubes são portadores do CCF, sendo apenas cinco do Nordeste. Por enquanto Porto de Caruaru (PE) e Sport (PE), Bahia e Vitória, são os que possuem a CCF A, que dá ao clube a certificação por dois anos, o Ceará possui a CCF B, que garante a agremiação o reconhecimento por uma temporada, quando ele têm de cumprir uma série de exigências.
Mecanismo de Solidariedade garante direito
Se um atleta profissional transferir-se envolvendo alguma quantia financeira antes do fim do seu contrato em caráter definitivo ou temporário de um clube para outro antes de fim do contrato, os clubes que deram suporte à sua formação e educação receberão uma parte da indenização a título de contribuição de solidariedade, distribuída proporcionalmente ao número de anos em que o atleta esteve inscrito ao longo das temporadas que fez dos 12 aos 23 anos do atleta. Nas temporadas dos 12 aos 15 anos, o clube recebe 0,25% do valor final da transação, enquanto das temporadas dos 16 a 23 anos, o clube que o atleta atuou recebe 0,50% do valor final. Se o atleta contar com o jogador dos 12 aos 23, deterá 5% do montante investido na negociação.