Segundo comunicado enviado a funcionários pelo presidente da Netflix, Reed Hastings, Friedland pronunciou a palavra “n*****” em pelo menos duas ocasiões. O termo é considerado a ofensa mais grave que se pode dizer a uma pessoa negra.
O primeiro incidente aconteceu “meses atrás”, quando Friedland participava de uma reunião para abordar justamente as palavras ofensivas que não deveriam ser ditas em séries de comédia.
“Várias pessoas o informaram que o uso da palavra era inapropriado e doloroso, e Jonathan se desculpou a quem estava na reunião. Na época, esperamos que esse terrível incidente jamais se repetisse”, escreveu Reed Hastings no e-mail.
O segundo incidente aconteceu poucos dias depois. Friedland falou novamente a expressão “n*****” para dois funcionários negros que “estavam tentando ajudá-lo a lidar com a ofensa original”.
“Esse segundo incidente confirmou uma profunda falta de entendimento, e fui convencido de que Jonathan deveria ser demitido”, acrescentou.
Para piorar, Jonathan Friedland sequer comentou os incidentes numa terceira reunião com funcionários negros da empresa, o que, de acordo com Hastings, “foi interpretado por muitos que ele não se importava ou não se sentia responsável pelas palavras.”
Na carta, Reed Hastings reconhece que deveria ter identificado a gravidade do assunto já no primeiro incidente.
“Eu deveria ter usado o ocorrido como um momento de aprendizado para todos na Netflix sobre o quão dolorosa e feia é essa palavra, que jamais deve ser usada. Eu percebo que meu privilégio me fez intelectualizar ou até mesmo minimizar questões raciais como essa.”
Em seguida, o CEO reflete sobre lugar de fala. Embora o xingamento seja considerado uma grave ofensa, com o tempo foi ressignificado pela comunidade negra, que pode usá-la dependendo do contexto. O termo é comumente dito em canções de hip-hop — mas nunca por cantores brancos.
“Dependendo de onde você vive, a compreensão e as sensibilidades ao redor da história do uso da palavra n***** podem variar. O debate sobre o uso da palavra está acontecendo em todo o mundo. Seu uso em mídias como música e filmes criou certa confusão em relação à existência de um momento aceitável para se utilizar a palavra”, diz Hastings.
Ele continua dando exemplos de quando a palavra pode ou não ser usada:
“Para pessoas não-negras, a palavra não pode ser dita, já que basicamente não há contexto em que ela pode ser apropriada ou construtiva (mesmo se você estiver cantando a letra de uma música ou lendo um roteiro). Não há como neutralizar a emoção e a história por trás da palavra, em nenhum contexto.”
“O uso da expressão (censurada) ‘N-word’ foi criada como um eufemismo, com o objetivo de fornecer uma alternativa aceitável (para referir-se à palavra). Quando uma pessoa viola essa regra, provoca ressentimento, intensa frustração e grande ofensa a muita gente. Nossa série ‘Dear white people’ aborda alguns desses temas.”
A comédia “Dear white people”, renovada para uma terceira temporada na noite desta quinta-feira, fala amplamente sobre o uso do xingamento em contextos sociais. Em uma das cenas mais emblemáticas, um jovem branco usa a palavra ao cantar a letra de uma música, causando incômodo nos amigos negros.
No Twitter, Friedland falou sobre sua demissão: “Líderes precisam dar exemplos. Infelizmente, fui insensível ao falar com minha equipe sobre as palavras que podem ofender numa comédia. Me sinto horrível com o estresse que esse lapso causou às pessoas de uma empresa que eu amo.”
Mais tarde, segundo a revista “Hollywood Reporter”, ele disse: “Suba alto, caia rápido. Tudo por causa de algumas palavras…”, mas apagou o post em seguida.